Agência France-Presse
postado em 22/06/2010 15:57
Washington - Um estudo publicado nos Estados Unidos nesta terça-feira diz que, se um telespectador se alimentasse somente dos produtos anunciados na telinha, ingeriria 25 vezes mais açúcar e 20 vezes mais gordura que o recomendado.
O trabalho publicado no Journal of American Dietetic Association revela que a publicidade apresenta de forma insuficiente os produtos derivados do leite, frutas e legumes, representando em excesso alimentos associados a doenças crônicas (colesterol, sódio, proteínas, etc.).
De acordo com os cientistas, um regime composto somente de alimentos "vistos na TV" forneceria 25 vezes mais açúcar do que a recomendação diária e 20 vezes mais gordura, contra somente 40% dos valores sugeridos para a quantidade de legumes e 27% de frutas.
Seguindo um regime como este, o corpo humano estaria exposto mais rapidamente às carências de ferro, das vitaminas A, E e D, de fósforo e magnésio, precisou o estudo que relembrou a mensagem trazida pelo documentário "Supersize Me - A dieta do palhaço" onde Morgan Spurlock se alimenta exclusivamente de fast-food durante um mês.
O mais surpreendente, além dos resultados do estudo, é a presença majoritária desses alimentos em contraposição aos outros na mídia, observou Michael Mink, professor da Universidade Armstrong Atlantic na Geórgia e principal autor da pesquisa.
Para fazer o estudo, os pesquisadores gravaram os principais canais de televisão americanos durante 96 horas, nos momentos de maior audiência, bem como nos sábados de manhã, a fim de avaliar as publicidades destinadas principalmente às crianças durante os períodos de difusão de desenhos animados.
Em nenhum momento, entre os 116 anúncios de serviço público observados, foi feita a menção a informações alimentares, palavra-chave para uma alimentação saudável, segundo o estudo.
"Acabamos abrindo um caminho fácil e barato para os alimentos não saudáveis", lamentou Alexandra Evans, da Universidade de Austin, também autora do estudo.
Os cientistas apontam a falta de regulamentação nos Estados Unidos para os comerciais de comida, apesar de o Estado já ter tentado impor algumas regras há 10 anos.
"Essa abordagem falhou por causa da influência da indústria de alimentos e lobbies. Devemos aprender com os exemplos dos países europeus, que restringiram ou proibiram a publicidade de alguns alimentos pouco saudáveis e exigiram que o setor se autorregulasse", declarou Mink.
Os inúmeros pesquisadores que participaram do estudo chamaram a atenção para um equilíbrio entre os poderes públicos e o mercado.
"Devemos criar um ambiente saudável, permitindo que as pessoas façam suas próprias escolhas alimentares", defendeu Michael Mink, que propôs uma etiqueta para "alimentos extremos" ou ainda enviar uma cópia do relatório para Michelle Obama, primeira-dama dos Estados Unidos, que tenta convencer os cidadãos a se alimentarem melhor.