Agência France-Presse
postado em 23/06/2010 12:01
O chefe da diplomacia brasileira, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira, em Sofia, que as sanções da ONU impostas ao Irã não devem fechar a porta às negociações sobre o controvertido programa nuclear iraniano."Minha opinião sincera é que as sanções não ajudam. Mas considero animador que o Irã tenha reagido até agora de forma bastante flexível", declarou.
O Conselho de Segurança da ONU renovou em 9 de junho sua condenação da política nuclear iraniano em uma resolução acompanhada por sanções, a quarta desde 2006.
Brasil e Turquia fecharam em 17 de maio um acordo com o Irã no qual esse país comprometeu-se a trocar em território turco 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido (a 3,5%) por 120 kg de combustível processado a 20% para alimentar seu reator de pesquisas médicas de Teerã.
Mas as grandes potências lideradas pelos Estados Unidos, que suspeitam que o Irã disfarça de civil seu programa nuclear com o objetivo de fabricar a bomba atômica, criticaram desde o primeiro momento o pacto que, segundo a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tornava o mundo "mais perigoso".
Sobre as preocupações expressadas pelo grupo de Viena (Estados Unidos, França e Rússia) sobre este acordo, Amorim estimou que corresponde "ao Irã reagir".
O ministro búlgaro das Relações Exteriores, Nikola; Mladenov, que em 28 de maio passado se entrevistou em Sofia com seu colega iraniano Manuchehr Mottaki, enfatizou que as sanções da ONU não devem ser interpretadas como "um fechamento da porta das negociações e conversações com o Irã".
"Espero que as autoridades iranianas estejam prontas para se sentar à mesa para um diálogo aberto a todos os temas sobre seu programa nuclear com o grupo de Viena e da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para encontrar uma solução para esta situação".
Amorim admitiu que essa "avalanche de sanções é decepcionante do ponto de vista" brasileiro.
Mas destacou a declaração do presidente francês, Nicolas Sarkozy, segundo a qual "deseja continuar com as conversações com base na proposta do Brasil e da Turquia com o Irã".
Na véspera, Amorim considerou um sinal positivo a vontade do Irã, apesar das sanções internacionais, de manter vigente a proposta de troca de combustível nuclear com a qual se comprometeu num acordo com o Brasil e a Turquia.
"Há uma disposição de manter o acordo que assinamos como base (...), o que é positivo, já que se for levado em conta o ocorrido no Conselho de Segurança se poderia temer reações menos inflexíveis", declarou Amorim em coletiva de imprensa, depois de, na véspera, ter anunciado que o Brasil renunciava à mediação desta questão.
Em 9 de junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que impõe novas sanções ao Irã por sua política nuclear, com a única oposição de Brasil e Turquia.