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Testemunhas dizem ter mentido em caso de americano condenado à morte

Agência France-Presse
postado em 23/06/2010 20:27
Testemunhas disseram a uma corte federal americana nesta quarta-feira (23/6) terem mentido durante o julgamento 19 anos atrás de Troy Davis, 41 anos, negro, que foi condenado à morte por assassinar um policial branco. Agora, ele terá a rara segunda chance de provar sua inocência.

Algumas das testemunhas eram, na época, analfabetas, estavam na prisão, ou eram adolescentes quando prestaram seus depoimentos, que serviram de base para a condenação de Davis pelo assassinado do policial Mark Allen McPhail.

Davis sempre se disse inocente, e as testemunhas que prestaram seus depoimentos contra ele no julgamento de 1991 admitiram nesta quarta-feira, uma a uma, terem mentido.

"Quando a polícia chegou, eu disse a eles que mal podia reconhecer o atirador", disse Atwan Wiiliams. "Estava com medo e nervoso. Só queria sair dali."

Questionado se tinha relido o depoimento feito à polícia, Williams respondeu: "não, senhor, não sei ler."

Kevin McQueen disse à corte ter inventado detalhes da suposta confissão que Davis teria feito a ele.

"Eu estava bravo com ele", disse, adicionando que seu falso testemunho lhe deixou benefícios. "Eu recebi uma sentença menor".

Sete das nove testemunhas contra Davis retrataram seus depoimentos, e muitas disseram nesta quarta-feira que mentiram porque estavam com medo da polícia.

"Havia muitos policiais à minha volta", disse Jeffrey Sapp, amigo de Davis, que não estava na cena do crime, mas teve uma breve conversa com ele nas horas subsequentes.

"Eu estava com tanto medo que teria dito qualquer coisa que eles quisessem", completou.

Ao menos uma das testemunhas do julgamento original, que tinha 16 anos na época e disse ter sido assediada pelos policiais, afirma agora que outra testemunha contra Davis pode ter assassinado McPhail.

Os procuradores do caso Davis utilizaram os depoimentos como base para condená-lo, sem apresentar provas físicas, como amostras de DNA ou impressões digitais.

Mas, ao encarar as pessoas que o colocaram no corredor da morte 19 anos atrás, Davis não demonstrou emoção.

Vestido com uniforme de presidiário, mas sem algemas, ele ouviu silenciosamente os depoimentos, e às vezes consultou seus advogados.

A sala de Justiça, totalmente cheia, com espectadores que chegaram de manhã para garantir seus assentos, estava dividida entre os parentes negros de Davis e a família branca de McPhail, incluindo seus dois filhos.

"Estou pronta para a Justiça", disse Kim Robertson, amiga de McPhail, à AFP. "A execução já deveria ter ocorrido. Não tenho dúvidas de que ele é culpado."

Mas em agosto, a Suprema Corte emitiu uma decisão incomum, demostrando ter dúvidas sobre o caso.

A Suprema Corte ordenou uma corte inferior a considerar se Davis poderia apresentar provas que não estavam disponíveis durante o primeiro julgamento para provar sua inocência.

A decisão da mais alta corte americana foi inusual.

"Nunca antes a Suprema Corte ordenou uma audiência para determinar se é inconstitucional executar alguém que é inocente", disse Larry Cox, executivo da Anistia Internacional nos EUA, em um comunicado emitido na terça-feira.

O caso atraiu atenção internacional por conta de seu teor racial e as alegações de inocência por parte de Davis.

Entidades de defesa dos direitos humanos estavam entre os observadores do julgamento desta quarta-feira.

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