Agência France-Presse
postado em 24/06/2010 14:19
O governo de Nicolas Sarkozy enfrentou nesta quinta-feira (24/6) protestos em massa e greves nos transportes e na educação contra a reforma da previdência, cujo principal artífice, Eric Woerth, teve seu nome vinculado a uma bilionária acusada de fraude fiscal.O secretário geral da CGT, principal sindicato francês, Bernard Thibault, qualificou as manifestações de "verdadeiro evento" e afirmou que "em torno de dois milhões" de pessoas tinham saído às ruas de todo o país.
Milhares de manifestantes mobilizaram-se desde a manhã nas principais cidades: Marselha, Bordeaux, Rennes, Le Mans, Nice, Lyon, Grenoble e Saint-Etienne. Mais de 130.000 pessoas (47.000 segundo a polícia) participaram da manifestação parisiense, informaram os sindicatos nesta quinta-feira de sol e calor.
"Aposentadoria: primeiro-ministro, seis meses; legisladores, seis anos; operário, 42 anos. Onde está o erro? 1789 está chegando", diziam alguns cartazes, aludindo à data da Revolução Francesa.
[SAIBAMAIS]A adesão à greve no setor público e privado também mostrou mobilização importante, sobretudo no setor ferroviário e na educação, onde ficou em 30% a 40%.
Para Fraçois Chereque, responsável pela CFDT, segundo maior sindicato francês, "a maior manifestação do ano - a quarta em 2010 -, mostra que o sentimento de injustiça frente a essa reforma brutal cresce".
A convocação às manifestações - apoiada por 68% dos franceses segundo uma pesquisa CSA - e à greve foi reafirmada na semana passada pelas seis grandes centrais sindicais francesas depois que o ministro do Trabalho, Eric Woerth, apresentou a reforma que prevê subir a idade mínima de aposentadoria para 62 anos (contra 60 atualmente).
O projeto governamental, preparado por Woerth, nomeado em março passado depois da derrota da direita governante nas eleições regionais para dirigir essa reforma, a mais polêmica da presidência de Nicolas Sarkozy, deverá ser aprovado em setembro no Parlamento.
O executivo fundamentou a reforma com o aumento da expectativa de vida e com a necessidade de equilibrar as contas públicas e se alinhar a outros países da Europa.
A crise financeira de 2008 triplicou o déficit do sistema de aposentadorias e pensões na França para 32 bilhões de euros (39 bilhões de dólares) em 2010, segundo dados de um órgão independente.
Se não for feito nada, em 2018 esse déficit será de 42,3 bilhões de euros.
A quinta-feira não parecia ser o melhor dia para o ministro do Trabalho, Eric Woerth, envolto há uma semana em acusações de "conflito de interesses" pois seu nome e o de sua mulher foram vinculados ao da bilionária Liliane Bettencourt, dona da L;Oréal e terceira maior fortuna da França, suspeita de fraude fiscal.
Florence Woerth geria parte da fortuna de Bettencourt, 87 anos, estimada em 10,1 bilhões de euros, e suspeita de ter contas na Suíça e em uma das ilhas Seychelles.
Woerth, que negou "conflito de interesses" e disse que não pensava em renunciar, dirigiu o Ministério do Orçamento entre 2007 e 2010.
Coincidências do calendário, na quinta-feira também não parecia ser a data ideal para o protesto sindical em meio ao retorno ao país da seleção francesa de futebol, depois de sua eliminação da Copa da África do Sul e da inédita reunião que o presidente francês manteve no palácio do Eliseu com o atacante Thierry Henry.
Os sindicatos acreditam que agora a bola está no campo do governo.
O líder da CGT disse que "se 23 grevistas (os jogadores da seleção) conseguem modificar a agenda do presidente, pensamos que os líderes sindicais também serão recebidos no Eliseu".