Agência France-Presse
postado em 25/06/2010 17:58
Na próxima segunda-feira (27/6), quando completa um ano o golpe de Estado que depôs o presidente hondurenho, Manuel Zelaya, as novas autoridades no poder estarão à frente de um país que não conseguiu fechar suas feridas políticas, nem convencer boa parte da comunidade internacional da reintegração de Honduras às instituições das quais foi afastada.Desde que assumiu a Presidência, em 27 de janeiro passado, Porfirio Lobo tem se esforçado por cumprir as exigências da comunidade internacional, como a formação de um governo de unidade e a criação de uma Comissão da Verdade que elucide o que ocorreu antes, durante e depois do golpe.
No entanto, Honduras continua afastada das instituições regionais, sobretudo devido à rejeição dos países seguidores do socialismo do século XXI, impulsionado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e pela falta de garantias para o retorno de Zelaya a Tegucigalpa de seu exílio na República Dominicana.
Este último ponto parece quase impossível de cumprir, enquanto os muitos partidários do golpe, que continuam instalados, em sua maioria, nas principais instituições e partidos políticos do país, continuarem ali.
No começo de junho, o presidente sooou o alarme, ao denunciar que havia um suposto interesse em derrubá-lo, inclusive de parte de seu próprio Partido Nacional (PN, direita).
"Não há risco de outro golpe de Estado, a comunidade internacional nunca permitiria", descartou, em declarações à AFP, o escritor e diretor da Biblioteca Nacional de Tegucigalpa, Eduardo Bahr, para quem o maior desafio do presidente é que "os aliados políticos do lado recalcitrantemente conservador se coloquem de lado".
Mas enquanto Lobo dá passos lentos rumo à normalização, nas ruas se percebem "níveis insuspeitos de intolerância e irritação", advertiu um diplomata europeu em Tegucigalpa.
Ao descalabro econômico, agravado pela diminuição da ajuda e o bloqueio de créditos internacionais, a crise econômica internacional e as constantes violações dos direitos humanos instituídas pelo governo de fato de Roberto Micheletti se somam à insegurança, à violência, à corrupção e à penetração do tráfico de drogas no país.
"A população se vê cada vez mais indefesa", disse Bahr, para quem o retorno de Honduras às instituições internacionais pode ajudar a "acalmar as classes baixas", que pressionam cada vez mais por uma mudança do sistema, que passa pela convocação de uma Assembleia Constituinte, precisamente o que levou ao golpe contra Zelaya.
A situação herdada por Lobo após o golpe de Estado "supera muito as possibilidades de um político, de um partido e de um governo mergulhados, ainda, em problemas antigos que se concentraram e explodiram de repente", assegurou o diplomata.
Por isso, cada vez mais são as vozes que reclamam uma reforma "de fundo" do sistema político hondurenho, que deixe de lado o partidismo e a corrupção, avançando para uma democracia social, política e econômica que se ocupe em profundidade dos problemas nacionais, tendo à frente a pobreza e as escandalosas desigualdades.