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Construção de parque bíblico em Jerusalém Oriental prevê a remoção de famílias palestinas, ameaça paz e causa polêmica

postado em 28/06/2010 08:10
Qualquer plano de paz que contemple o fim do conflito no Oriente Médio precisará situar Jerusalém Oriental como a capital do Estado Palestino. Esse é um dos motivos pelos quais o assistente social Jawad Siyam, 39 anos, promete não abandonar sua casa. Morador de Siloé, um bairro árabe situado próximo à Velha Cidade de Jerusalém, ele representa o interesse das 88 famílias palestinas que vivem no local. ;Temos que ficar em nossos lares. Não permitiremos que eles (israelenses) nos façam uma nova nakba;, afirmou ao Correio, em entrevista por e-mail. Jawad se refere à criação do Estado de Israel e à expulsão de palestinos de 530 cidades e 662 aldeias, em 1948. ;Ficaremos aqui e estamos dispostos a pagar o preço. Já estamos pagando o preço da Europa e de sua Segunda Guerra Mundial;, avisou. A ameaça temida por ele tem nome alusivo à própria história de Israel. A Municipalidade (Prefeitura) de Jerusalém aprovou recentemente a construção do parque bíblico Jardim do Rei, um sítio arqueológico no local onde Salomão teria sido coroado e onde Davi erigiu seu palácio. O complexo incluirá ainda hotéis, creches, restaurantes e estabelecimentos comerciais (veja arte ao lado).

Seria mais um projeto turístico, com garantia de renda para a população e as autoridades, se não fosse por um detalhe: ele exigirá a demolição de 22 casas palestinas construídas sem alvará. As famílias que moram em outras 66 residências serão obrigadas a apresentar o licenciamento ; um documento cuja obtenção é considerada quase impossível. Siyam acusa a Prefeitura de Jerusalém de não ter consultado os palestinos sobre os planos de remoção das famílias. ;Nada no projeto leva em conta nossas necessidades. Temos 1,5 mil palestinos vivendo no parque nacional de Bustan (dentro de Siloé) e eles têm o direito de se expressar;, comenta. ;Além disso, Siloé faz parte de Jerusalém Oriental, que supostamente será a capital dos palestinos;, acrescenta. Para o assistente social e líder comunitário, Israel pretende criar novos assentamentos em Jerusalém Oriental, ainda que tenha dado garantias do contrário para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

O prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, se revela um ferrenho defensor do projeto. ;O plano é em benefício dos moradores. Além disso, há a importância de desenvolver a área para favorecer o mundo e os turistas, e para a beleza de Jerusalém;, afirmou, no último dia 21, ao aprová-lo. Siyam não poupa críticas a Barkat. ;O prefeito crê na judaização de Jerusalém Oriental, ainda que não existam provas de que Salomão ou Davi estiveram nesta área;, observa. ;Se o Rei Davi realmente estava aqui 3 mil anos atrás, isso significaria ter que destruir a vida dos palestinos?;, questiona. Chefe do comitê de moradores de Siloé, ele sustenta que Barkat deseja reduzir o número de palestinos na cidade santa. Com uma dose de ironia, Siyam dispara: ;Se eu preciso ir de encontro com a agenda deles, então pretendo pedir de volta parte da Espanha, porque os árabes ali viveram durante séculos;.

Em entrevista ao Correio, Ahaz Ben-Ari, conselheiro jurídico do Ministério da Defesa de Israel, admite que o projeto é ;uma espécie de contradição e tensão; entre as autoridades de Jerusalém. ;Do ponto de vista do município, toda vez que se toca em uma propriedade palestina, isso se torna um problema político;, alerta. ;O governo tenta usar sua influência sobre a Municipalidade de Jerusalém para evitar problemas, mas nem sempre é bem-sucedido, por causa do diferente nível de autoridades;, acrescenta o advogado.

Obstáculos
Mesmo entre alguns israelenses existe um clima de desconfiança diante do projeto do Jardim do Rei. Com a função de observar assentamentos, a ativista Hagit Ofran ; da organização não-governamental Peace Now ; vê três problemas no plano. O primeiro deles está no desejo da Prefeitura de Jerusalém de demolir dezenas de casas palestinas para construir um parque bíblico, de interesse apenas dos judeus. ;Além disso, Bustan é uma vizinhança palestina, que terá de ser parte da capital palestina de Jerusalém, sob um acordo de paz. O projeto tenta mudar o local, de forma que ele se torne mais ;judeu;, dificultando um pacto pelo fim do conflito no Oriente Médio;, comenta. Por último, Hagit lembra que a soberania israelense sobre Jerusalém Oriental não é reconhecida nem pelo mundo nem pelos palestinos. ;Para eles, Bustan é um território ocupado, e a decisão da prefeitura é fazer o Jardim do Rei sem seu consentimento, o que criará muita tensão;, alerta.

O futuro daqueles palestinos cujas casas serão preservadas em um primeiro momento incomoda a ativista da Peace Now. Ela reconhece que a maior parte das residências palestinas em Bustan foi construída sem alvará. E culpa a prefeitura por jamais ter feito planos para que palestinos vivessem nessa parte da cidade. ;Desde 1967, as autoridades começaram projetos para a construção de 700 unidades (casas) voltadas aos árabes e 50 mil aos israelenses;, explica Hagit. ;Para os palestinos é praticamente impossível conseguir permissão para obras por causa da falta de planejamento. O resultado: muitos constroem ilegalmente, pois não têm alternativas.;

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