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Irã aposta no Brasil para voltar a negociar

Inclusão do país no processo é uma das condições do presidente Mahmud Ahmadinejad para voltar às negociações com as grandes potências. Ele quer também uma "posição clara" do Ocidente sobre Israel

postado em 29/06/2010 09:47

Disposto a negociar, sim, mas sob as suas condições. Esse foi o recado enviado ontem às potências ocidentais pelo presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, durante entrevista coletiva em Teerã. Entre as exigências do Irã estão a inclusão de Brasil e da Turquia nas conversações, a exposição de uma posição clara do Ocidente em relação ao programa nuclear de Israel e uma definição sobre o que o grupo cinco mais um (os membros permanentes do Conselho Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha) realmente quer. Atendidas essas exigências, as negociações podem ser retomadas ; mas só no fim de agosto, segundo Ahmadinejad. ;Nós retardaremos as conversas em razão da má conduta e da adoção da nova resolução (impondo sanções);, esclareceu o presidente.

O prazo coincide com o fim do mês de Mordad, no calendário persa. ;Será uma punição, para que eles aprendam como falar com outras nações;, disse. Ahmadinejad garantiu que continua disposto a iniciar a troca de urânio conforme previsto na Declaração de Teerã, assinada em maio com Brasil e Turquia. Entretanto, isso só será possível se mudar a ;composição; do grupo negociador. ;Quem disse que só os países do grupo cinco mais um devem participar das negociações? Outros países também devem estar presentes. Se de um lado estão Rússia, França e Estados Unidos, o Irã irá junto da Turquia e do Brasil;, argumentou. Outra exigência é que as potências ocidentais apontem quais pontos do Tratado de Não Proliferação (TNP) o Irã não tem cumprido, para ser considerado ;uma ameaça;.

Ahmadinejad rebateu declarações do diretor da CIA (agência de inteligência dos EUA), Leon Panetta, de que até 2012 o Irã já teria material para duas bombas atômicas. Disse que seu governo é ;esperto demais; para saber que bombas atômicas são ;inúteis;. ;Armazenar armas nucleares é estupidez, porque essas armas já provaram que não funcionam;, afirmou.

O presidente iraniano aproveitou o assunto para alfinetar o principal adversário do regime islâmicoo, os Estados Unidos. Ahmadinejad disse que está ;preocupado com a segurança do povo americano;, já que o país declarou oficialmente um arsenal nuclear com cerca de 5.600 ogivas. E sugeriu que ;um governo que não é capaz de estancar um vazamento de petróleo; não pode cuidar da segurança de seu material nuclear. Irônico, ofereceu mais uma vez ajuda para conter o derramamento no Golfo do México, que já dura mais de um mês.

Guerra psicológica

Horas antes da coletiva de Ahmadinejad, o porta-voz da diplomacia iraniana, Ramin Mehmanparast, tinha desqualificado as afirmações de Panetta. ;Esse tipo de declaração faz parte de uma guerra psicológica lançada para passar uma imagam negativa das atividades nucleares pacíficas do Irã;, disse à agência oficial de notícias Irna. ;Os dirigentes americanos, e em particular os serviços de inteligência, sabem melhor do que ninguém que o programa iraniano não é, de maneira alguma, militar;, completou. Segundo Panetta, o Irã tem a quantidade necessária de urânio para produzir dois artefatos atômicos, mas o mineral ainda não está enriquecido à taxa necessária (90%) para fazer a bomba. O presidente russo, Dmitri Medvedev, demonstrou preocupação no domingo diante do anúncio feito pelo diretor da CIA.

Para Ahmadinejad, todas essas acusações não passam de ;pretextos; para justificar um ataque militar ao Irã. ;Se a questão nuclear não existisse, eles iam criar outra desculpa;, acusou. ;As políticas dos EUA e de seus aliados em relação ao Irã, nos últimos 57 ou 58 anos, foram de inimizade;, acrescentou. Ele reafirmou as ameaças lançadas pelo presidente da estatal Empresa de Navegação da República Islâmica (Irisl), Mohamad-Hossein Dajmar, de que o Irã vai retaliar qualquer medida de inspeção a seus navios por parte de outros países ; com base na nova rodada de sanções aprovada pelo Conselho de Segurança.

PROBLEMAS INTERNOS
; O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, não poupou Israel de suas críticas durante coletiva em Teerã. Segundo ele, a pressão que o governo israelense exerce sobre a Faixa de Gaza é reflexo de ;problemas internos do regime sionista;. Ahmadinejad ainda ameaçou Israel ; caso repita uma ação tão violenta como a do ataque à flotilha humanitária, que deixou nove mortos ; com uma resposta ;mais dura; por parte de seu país. ;O Irã sempre esteve ao lado da Palestina e permanecerá assim no futuro;, disse.

Unidos contra o terror

Centenas de iranianos se reuniram ontem diante da Embaixada da França, em Teerã, para protestar contra a decisão do governo de permitir uma manifestação da Organização Mujahedin Khalq (MKO) no subúrbio de Paris. Segundo o jornal Tehran Times, parentes de mártires ostentaram cartazes e entoaram slogans condenando os crimes cometidos pelo grupo. Os ativistas exigem que o governo francês transfira os membros do MKO para o Irã, a fim de responderem perante a Justiça. O protesto marcou o aniversário de um ataque à bomba, cometido pelo MKO, contra o escritório central do partido Jomhuri Eslami, em 1981, quando 72 pessoas morreram.

As condições

; Saiba quais são as exigências de Teerã para manter o diálogo sobre seu programa de enriquecimento de urânio

; As potências ocidentais devem se posicionar de forma clara em relação ao arsenal nuclear de Israel

; O Ocidente tem de apontar quais são os pontos do Tratado de Não-Proliferação (TNP) que o Irã não cumpre ; e que o torna uma ameaça

; O G5 1 (EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha) deve revelar suas impressões sobre o que já foi conseguido nas negociações (como sua posição sobre a Declaração de Teerã) e dizer o que espera: ;conversa ou inimizade; com o Irã

; A composição das negociações precisa mudar, incluindo a Turquia e o Brasil

Coreia reforça arsenal


Em resposta ao que considera hostilidade e ameaça militar por parte dos Estados Unidos, o governo norte-coreano anunciou ontem o reforço de seu arsenal nuclear. ;Os recentes acontecimentos na Península Coreana mostram que a DPRK (Coreia do Norte) precisa reforçar seu dispositivo de dissuasão nuclear de um novo modo;, informou o Ministério de Relações Exteriores do país, citado pela agência oficial KCNA. No mesmo dia, o país liderado por Kim Jong-il denunciou que os EUA e a Coreia do Sul teriam instalado diversos armamentos pesados em Panmunjon, uma vila sul-coreana situada na fronteira com o vizinho comunista.

Documentos divulgados no último dia 23 mostram que os Estados Unidos já haviam estudado o uso de armas atômicas contra a Coreia do Norte em 1969, quando esta nação derrubou uma aeronave espiã dos EUA ; o incidente matou 31 tripulantes. A revelação reforçou os planos norte-coreanos. ;O fato histórico demonstra que responder ao poder nuclear com o poder nuclear é a decisão correta;, argumentou a chancelaria de Pyongyang. Para a nação comunista, os documentos são uma prova de que Washington procura utilizar arsenal atômico sempre que há uma ocasião para prosseguir com sua ;política do poder; contra países opositores. O Ministério das Relações Exteriores acrescentou que o presidente Barack Obama não mudou essa postura.

Desde 26 de março, quando o navio de guerra sul-coreano Cheonan foi atacado por um torpedo norte-coreano, provocando a morte de 46 pessoas, os conflitos entre Pyongyang e Seul se intensificaram. Na cúpula do G-8 ; grupo das oito maiores economias do mundo ;, ocorrida no último sábado em Toronto, o regime de Kim Jong-il foi criticado por afundar a embarcação. Em comunicado, os integrantes do G-8 afirmaram que apoiam a Coreia do Sul ;em seus esforços para responsabilizar os culpados; pelo incidente. No domingo, a Coreia do Norte recusou uma proposta da Organização das Nações Unidas (ONU) para participar de conversações militares sobre o ataque ao Cheonan.

Armas na fronteira

O governo norte-coreano exigiu ontem que os Estados Unidos e a Coreia do Sul retirem o armamento pesado que instalaram em Panmunjon, um vilarejo que sediou a assinatura de um pacto para o fim da guerra entre as Coreias, em 1953. Segundo o Exército Popular da Coreia do Norte, as armas foram deixadas no local no último sábado. A ação de Washington e de Seul foi considerada ;uma provocação premeditada para iniciar um grave conflito militar;, criticou o Exército. Caso o armamento não seja retirado, a Coreia do Norte ameaçou adotar ;fortes medidas militares; na área. O Acordo de Armistício, que deu fim à guerra das Coreias, prevê que as forças de ambos os países só possam usar armas leves, como pistolas e rifles, na Zona Desmilitarizada.

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