postado em 01/07/2010 09:18
Ao receber, pela primeira vez, um chefe de Estado da Síria no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve o tom amistoso com que sempre recebe os colegas dos países árabes. Na presença de Bashar Al-Assad, ele colocou Israel na berlinda. Em discurso no Itamaraty, Lula reforçou a posição brasileira de que o país deve devolver as Colinas de Golã à Síria e suspender o bloqueio à Faixa de Gaza. O visitante, por sua vez, acusou o Estado judaico de ;sempre colocar empecilhos; para chegar à paz e de ;ameaçar a segurança na região, com suas armas nucleares;. As declarações em Brasília antecedem uma possível visita do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, ao Brasil ; segundo o assessor do Planalto para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, ela pode ocorrer em agosto.;Apoiamos o princípio de ;terra por paz; para assegurar a devolução das Colinas de Golã à Síria;, disse Lula, após o encontro bilateral, no qual se discutiu uma possível participação do Brasil nessa negociação com Israel. De acordo com Garcia, a visita de Netanyahu pode servir para colocar o assunto em pauta. ;O Brasil apoia essa reivindicação (de Damasco) e confia que a proposta da Síria de troca de território é perfeitamente aceitável pelo governo de Israel;, afirmou o assessor. Lula, por sua vez, pediu ao colega que se empenhe ;para ajudar a alcançar uma verdadeira reconciliação entre palestinos;. ;A Síria é um sócio indispensável na busca da pacificação. A Síria tem que ser ouvida e envolvida nas grandes discussões sobre o futuro do Oriente Médio;, declarou Lula.
Segundo Garcia, Al-Assad não pediu diretamente ao Brasil que faça a intermediação nas conversas de paz entre israelenses e palestinos. ;(Mas) Há uma expectativa de que o Brasil continue desempenhando essa função que teve até agora: de buscar uma paz que seja respeitosa na independência de Israel, respeitosa na existência do Estado palestino com fronteiras seguras;, afirmou.
Realismo
O presidente sírio elogiou a ;visão realista; do Brasil sobre o Oriente Médio, e seus posicionamentos desde o início do governo Lula. ;O povo árabe não esquece a posição do Brasil perante a Guerra do Iraque, em 2003, que se iniciou por conta de armas nucleares. Alguns tentam repetir esse mesmo cenário em vários assuntos internacionais;, disse Al-Assad, em referência ao impasse sobre o programa nuclear iraniano. ;A Síria admira o papel do Brasil e da Turquia ao chegarem a um acordo no qual o Irã aceitou a troca de seu combustível nuclear. Isso mostrou a boa vontade do Irã e abriu caminho para uma solução pacífica, enquanto Israel ainda ameaça a segurança e a paz na região, por meio de suas armas nucleares;, completou.
Os dois líderes condenaram o ataque à flotilha que seguia rumo à Faixa de Gaza, que deixou nove mortos. ;Israel sempre põe empecilhos para encontrar a paz. Em 2006, houve o ataque ao Líbano, em Gaza, muitos inocentes morreram, o cerco continua. O último empecilho foi a esse barco humanitário, que queria somente a paz e foi atacado em águas internacionais;, disse Al-Assad. Para Lula, o ;incidente; com a flotilha mostra que é ;mais do que hora de levantar o bloqueio a Gaza;.