Jornal Correio Braziliense

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Brasil é prioridade para Reino Unido

Chanceler sinaliza nova política externa e propõe foco nas potências do Leste e do Sul

;O mundo mudou. Se não mudarmos com ele, o mundo britânico estará fadado ao declínio;, destacou ontem o chanceler do Reino Unido, William Hague, em entrevista à emissora BBC. O responsável pela política externa britânica propõe uma das maiores mudanças de estratégia do país nas últimas décadas: em vez de manter o Reino Unido ;congelado; na relação com o ;tripé; Estados Unidos-União Europeia (UE)-Oriente Médio, Hague quer investir nas novas potências do Leste e do Sul ; o Brasil, entre elas. ;A verdadeira ação econômica no mundo está acontecendo no Brasil, na Índia, na China e nos Estados do Golfo. E estes são os lugares dos quais precisamos nos aproximar muito mais intensamente do que já tentamos antes;, destacou Hague.

No domingo, Hague sinalizou o novo rumo da política externa em uma entrevista ao jornal Sunday Telegraph. O ministro das Relações Exteriores avisou que o Reino Unido precisa criar uma ;nova identidade global; que enfoque as nações emergentes ; como Índia, Brasil, Chile e os países do Golfo Pérsico. Mesmo assim, Hague afirmou que a guerra no Afeganistão, onde há 9,5 mil militares britânicos, continua sendo a maior prioridade da política externa do Reino Unido.

Em entrevista ao Correio, por telefone, Timothy Power ; diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford ; afirmou que o novo governo do premiê David Cameron(1) tem dois objetivos principais, ao anunciar a virada na política externa. ;O primeiro é reconhecer o surgimento dos Bric, uma realidade que nos últimos dois ou três anos está ficando muito evidente: a emergência da China, a recuperação econômica da Rússia, o crescimento da Índia e a inserção do Brasil no cenário global;, aponta Timothy. O segundo ponto, de acordo com o especialista, seria se diferenciar do governo anterior ; do trabalhista Gordon Brown. ;Se pegarmos todo o ciclo do ;New Labour; (Novo Trabalhismo, pela tradução literal), de 1997 até agora, a característica mais marcante do período dominado por Tony Blair foi a estreita aliança com os EUA, uma parceria um pouco subserviente;, afirma Timothy.

Hague acusou o governo trabalhista de não ter conseguido se aproximar das economias emergentes e tampouco ter aumentado a influência britânica na Europa, lembrando que desde 2007 o número de autoridades britânicas nos órgãos da UE caiu um terço. ;A ideia de que o último governo levou a sério o desenvolvimento da influência britânica na Europa se mostra uma ficção insustentável;, afirmou o chanceler dos conservadores. ;Estamos determinados a corrigir isso;, completou Hague.

Para Timothy, a decisão de Hague foi uma escolha natural do partido. ;Eles não podem se jogar nos braços da Europa, porque é contra a própria história do Partido Conservador, o mais eurocético dos partidos britânicos. Então, a opção que fica é se identificar com as potências emergentes;, ressalta Timothy. O ex-chanceler David Milliband, atualmente o porta-voz do Partido Trabalhista para relações internacionais, respondeu às críticas de Hague dizendo que os conservadores deixaram o principal grupo de centro-direita no Parlamento Europeu no ano passado. Segundo Milliband, a coalizão atual (conservadores e liberais) não deve levar o Reino Unido a ter maior influência no bloco europeu. ;Se não fosse um governo de coalizão, poderia haver um corte completo, porque o desejo dos conservadores é deixar a UE. Eles não têm espaço para fazer isso, porque dependem dos liberais para a sobrevivência do governo. É o ponto de maior tensão da coalizão;, analisa Timothy.

Semelhanças
O pesquisador identifica que há semelhanças da nova política externa britânica com a direção traçada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. ;A ordem internacional está se descongelando muito. Não foi só o governo Lula ; os governos anteriores brasileiros também tiveram interesse em diversificar essas relações. Mas o próprio sucesso do Brasil, da Índia e da China está fazendo com que as grandes potências façam a mesma coisa;, afirma Timothy.

1 - O premiê de cera
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, ganhou ontem um boneco no Museu de Cera Madame Tussaud, em Londres. ;Fizeram um trabalho incrível, é espantoso. Parece tão real. É quase idêntica a ele, realmente;, disse a mulher de Cameron, Samantha, destacando que seu marido também ficará impressionado com a semelhança. Grávida de sete meses, Samantha posou para fotos ao lado da estátua do marido, mas se negou a beijá-la, temendo ;manchá-la de batom;. A estátua custou 150 mil libras (225.000 dólares) e mobilizou uma equipe de 20 pessoas para instalá-la no museu depois da vitória de Cameron nas eleições gerais.