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Morre Mohammed Fadlallah, líder xiita

Silvio Queiroz
postado em 05/07/2010 09:06
Após a morte do xeque, a comunidade muçulmana xiita iniciou série de homenagens: Fadlallah era visto como modelo de sabedoriaA comunidade muçulmana xiita, a maior entre as que formam o instável mosaico político-religioso do Líbano, fechou-se ontem em luto pela perda de seu principal expoente teológico, o grão-aiatolá Mohammed Hussein Fadlallah. Associado no Ocidente ao partido pró-iraniano Hezbollah, listado nos Estados Unidos como terrorista, ele era visto no país ; inclusive pelos adversários ; como uma voz de sabedoria e moderação, notadamente em temas como o papel da mulher na sociedade. Entusiasta da revolução islâmica de 1979 no Irã, no fim da vida ele se distanciara do regime islâmico de Teerã, embora continuasse um opositor tenaz de Israel e da política norte-americana para o Oriente Médio.

O xeque Fadlallah tinha 75 anos e fora hospitalizado na sexta-feira, com hemorragia interna. Sua morte foi anunciada oficialmente no domingo, e a partir de então sucederam-se as homenagens. A emissora de televisão Al-Manar, do Hezbollah, suspendeu a programação e passou a exibir fotos do grão-aiatolá com recitações do Corão ao fundo. O primeiro-ministro Saad Hariri, muçulmano sunita, pró-ocidental e adversário de Fadlallah, saudou-o como ;uma voz de moderação e um defensor da unidade do país;.

Foi como ;guia espiritual; do Hezbollah, fundado em 1982, que o xeque despontou no noticiário internacional, nos turbulentos anos 1980 ; quando o Líbano vivia em guerra civil e sob ocupação israelense. Nem Fadlallah nem o partido jamais explicitaram qualquer laço formal ou hierárquico, embora fosse incontestável a ascendência do líder religioso não apenas sobre a organização, mas sobre toda a comunidade xiita. Nesse período em que células de resistência armada recorriam a carros-bomba e sequestros de ocidentais, o grão-aiatolá recebia apelos frequentes para que intercedesse pelos reféns. Invariavelmente, respondia que usaria de sua ;influência; sobre os mujahedin (combatentes).

Mohammed Hussein Fadlallah nasceu em 1935 em Najaf, no Iraque, uma das duas cidades mais sagradas para os xiitas. Filho de libaneses e registrado como cidadão libanês, mudou-se para seu país em 1966, depois de concluir os estudos. Logo destacou-se no cenário teológico, pela profundidade de sua produção teórica ; deixou como legado mais de 40 livros, tratados e fatwas (éditos religiosos). Um dos últimos condenava a normalização das relações com Israel, na linha de sua defesa intransigente da resistência armada. Mas talvez sejam mais marcantes, pelo tom progressista, suas fatwas contra a mutilação genital feminina, praticada muitas vezes em nome do islã, e contra o assassinato de mulheres ;em defesa da honra;, assim como em favor do direito delas a revidar agressões físicas por parte do marido.

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