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Governo de Raúl Castro anuncia a libertação de 52 prisioneiros políticos

Cinco deles seriam soltos nas próximas horas. Anúncio ocorre durante visita de chanceler espanhol à ilha comunista

postado em 08/07/2010 07:00

Laura Pollán já sonha com o momento de abraçar o marido, arrancado de seu lar pela polícia cubana durante a chamada Primavera Negra, em 2003. Reina Luis Tamayo começa a perceber que a morte de seu filho, Orlando Tamayo Zapata, não foi em vão. Yoani Sánchez sente que suas palavras, divulgadas por meio de um blog na internet, contribuíram de alguma forma para a decisão anunciada ontem. O 7 de julho de 2010 ficará marcado na história de Cuba como o dia em que o regime do presidente Raúl Castro anunciou a maior libertação de prisioneiros políticos em 38 anos. Até o fechamento desta edição, a expectativa era de que cinco detidos seriam soltos nas próximas horas e embarcariam para a Espanha, acompanhados de seus familiares. De acordo com uma carta divulgada no site da Arquidiocese de Havana, o cardeal Jaime Ortega Alamino ; mediador na negociação com o governo ; foi informado de que 47 presos também ganhariam a liberdade e poderiam sair do país. ;Esta gestão será concluída em um período de três a quatro meses a partir desse momento;, afirma a mensagem, assinada por Orlando Márquez Hidalgo, porta-voz de Ortega.

O processo de diálogo entre a Igreja Católica e o governo cubano teve início em 19 de maio, quando Raúl Castro recebeu o cardeal Jaime Ortega e o presidente da Conferência de Bispos Católicos de Cuba, monsenhor Dionísio García Ibañez. Por volta de meio-dia de ontem (13h em Brasília), Ortega recebeu a notícia durante uma reunião com o chefe de Estado, que contou com a participação dos chanceleres Miguel Ángel Moratinos (Espanha) e Bruno Rodríguez Parrilla (Cuba). Todos os 47 presos que serão soltos nos próximos meses fazem parte do grupo restante de 75 dissidentes reclusos na Primavera Negra.

Por telefone, o Correio consultou três ativistas internacionalmente reconhecidas por sua luta em favor dos direitos humanos. ;É preciso libertar essas pessoas, mas também desmontar o aparelho repressivo contra a opinião;, desabafou Yoani Sánchez, que em abril de 2007 criou o blog Generación Y para denunciar as violações dos direitos humanos cometidas na ilha. ;Cuba penaliza a expressão, a associação livre;, criticou. Para ela, o anúncio de anistia aos 52 presos políticos é ;um reconhecimento tardio de que foi um erro mantê-los por tanto tempo no cárcere;. ;O cardeal Ortega funcionou como um elemento aglutinador entre todos os cubanos. Mas ainda faltam representantes da sociedade civil cubana nas negociações para a libertação de prisioneiros de consciência;, observa. Ela acredita que três eventos forçaram Rául Castro a optar pela anistia: ;A morte de Orlando Zapata, a greve de fome de Fariñas e a pressão exercida pelas Damas de Branco por tanto tempo.;

[SAIBAMAIS]A mãe do dissidente político Orlando Zapata acredita que Raúl e Fidel Castro só fizeram essa concessão por terem medo de muitos cubanos. ;Esses homens (prisioneiros) estão perdendo suas vidas somente por buscarem a liberdade e a democracia para todos;, comenta Reina Luis Tamayo. Após acompanhar a agonia do filho ; morto em 23 de fevereiro, após 85 dias de greve de fome ;, ela rejeita pedidos de perdão. ;O mal já está feito. Os detidos estão ficando cegos, enfermos e destruídos. Os Castro devem reconhecer que são assassinos;, sugere. Reina contou à reportagem que ainda sofre represálias por parte do regime. ;Depois do assassinato de meu filho, ainda me perseguem e me ameaçam. Jamais podem me pedir perdão;, desabafa.

Damas de Branco
Há sete anos, as mulheres e mães dos presos durante a Primavera Negra realizam um protesto pela libertação de seus entes queridos, sempre às sextas-feiras. Laura Pollán, fundadora do movimento Damas de Branco, reconhece o papel importante das ativistas na conquista anunciada ontem. ;A morte de Orlando Zapata e nossas marchas pacíficas comoveram o mundo;, alegra-se. ;A perseverança, a resistência e o amor que as Damas de Branco têm mostrado estão culminando no fruto da liberdade.; Ela pede ao governo cubano que liberte todos os 115 prisioneiros políticos, além dos 55 que deverão deixar o cárcere em breve. ;É preciso que haja uma liberdade sem condições. Que os presos decidam o que fazer da vida, se ficarão em Cuba ou se partirão. Caso sejam obrigados a uma saída forçosa, não haverá avanço;, afirma. ;Defendemos uma liberdade plena.;

Se a libertação dos 52 presos for confirmada, o governo cubano terá atendido à demanda do jornalista Guillermo Fariñas, em greve de fome há quatro meses. Com um coágulo na veia jugular e uma infecção hepática, o dissidente corre grave risco de morte. Licet Zamora, porta-voz de Fariñas, disse à agência de notícias EFE que ele não abandonará o protesto até a libertação dos primeiros 12 dos 26 presos mais enfermos. Desde que Fidel Castro ascendeu ao poder, Cuba realizou duas grandes anistias de prisioneiros: em 1978, libertou 3,5 mil detido após um diálogo com exilados; e em 1962, enviou aos EUA 1,5 mil sobreviventes da invasão à Baía dos Porcos.

Ouça as entrevistas com os ativistas Yoani Sánches, Reina Luis Tamayo, Laura Pollán e Elizardo Sánchez:

Yoani Sánchez, ativista e blogueira cubana


Reina Luis Tamayo, mãe de Orlando Zapata, morto após greve de fome de 85 dias, em 23 de fevereiro

Laura Pollán, fundadora do movimento Damas de Branco, de Havana

Elizardo Sánchez, fundador da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional

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