postado em 10/07/2010 08:51
Ainda é muito grave o estado de saúde do jornalista e psicólogo cubano Guillermo Fariñas, internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Provincial Armando Millián Castro, em Santa Clara (a 268km de Havana). Apesar do tratamento com heparina sódica, que já dura 15 dias, o trombo entre a veia jugular e a artéria subclávia não cedeu. Os médicos decidiram interromper a administração do medicamento ao constatarem que um hematoma na perna direita do dissidente aumentou de tamanho, provocando muita dor. O jejum de 135 dias ; interrompido no início da tarde de quinta-feira ; deixou muitas sequelas em Fariñas, que corre um ;grave risco de morte;.;O trombo, alojado na intersecção entre a veia jugular e a subclávia, está encobrindo praticamente toda a camada venosa. Isso afetou seus membros superiores esquerdos;, afirmou ao Correio, por telefone, Ismely Iglesias Martínez, médico pessoal de Fariñas. ;Existe a possibilidade de o trombo crescer e causar complicações mais graves, como uma embolia pulmonar;, acrescentou. Segundo o clínico-geral, o risco potencial de seu paciente morrer vai baixar no decorrer dos próximos dias.
Por volta das 18h15 de ontem (hora de Brasília), a reportagem tentou entrevistar Fariñas, por telefone. Clara Pérez Gómez, mulher do dissidente, o acompanhava na UTI. ;Ele sente muita dor no local onde colocaram o último catéter e está sob efeito de sedativos;, contou. Em relação à dieta, Clara comentou que o marido por enquanto ingere apenas líquidos e enfrenta um processo lento de adaptação. Pouco após suspender a greve de fome, na quinta-feira, Fariñas pediu a Clara que esperassem para ver se o governo cumprirá sua promessa.
A mãe de Orlando Zapata Tamayo ; dissidente morto em 23 de fevereiro, após 85 dias de greve de fome ; admitiu ao Correio que jamais desejou o protesto de Fariñas. ;Eu pude falar com ele alguns dias atrás e ele me disse: ;Não, Reina, se eu morrer, ficarão mulheres como você. Para que aqui aconteça algo, é preciso haver muitas mortes;;, relatou Reina Tamayo. ;Não havia necessidade de Fariñas declarar essa greve, pois ele não pedia nada de outro mundo. Sei que ele o fez por Zapata;, acrescentou.
Denúncia
O acordo firmado entre o cardeal Jaime Ortega e o presidente Raúl Castro para a libertação de 52 prisioneiros políticos ; cinco nas próximas horas e 47 até novembro ; ainda repercute na comunidade internacional. Além do governo brasileiro (1), a Alta Comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay, demonstrou ontem sua satisfação com o anúncio e afirmou esperar que este seja um começo para proteção dos direitos humanos na ilha comunista. No comunicado divulgado por Rupert Colville, porta-voz de Pillay, a Alta Comissária também se disse ;aliviada; ao saber da decisão de Fariñas de suspender a greve de fome, após a decisão do regime castrista.
O jornal El Mundo divulgou ontem que o governo da Espanha receberá os ex-presos políticos cubanos na qualidade de imigrantes, e não de asilados políticos. Com isso, eles poderão retornar a Cuba quando desejarem. Autoridades espanholas acreditam que o primeiro grupo de libertados deverá chegar a Madri entre hoje e o início da próxima semana. Apesar da concessão de Raúl Castro, o clima entre alguns dissidentes na ilha é de denúncia e de indignação. Reina Tamayo contou que, na manhã de ontem, recebeu a visita de um major-general que impediu-lhe de sair às ruas com as mulheres do movimento Damas de Branco. ;Castro libertou os presos, que já estão quase mortos, e assassinou Zapata. A liberdade imediata tinha de ser para todos os nossos irmãos, para que nenhuma mãe sofra o que sofri;, desabafou. ;Eu faço um chamado à oposição interna de Cuba para que redobre os esforços. Vamos lutar pacificamente contra o regime. As portas de minha casa estão abertas de noite e de dia, para seguirmos lutando, com dignidade, para pedir liberdade e democracia a todos os cubanos;, gritou.
1 - Amorim satisfeito
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, manifestou ontem felicidade com as notícias sobre a decisão do governo cubano de conceder anistia a 52 presos políticos. Segundo a Agência Brasil, o chanceler também parabenizou a Igreja Católica pelas negociações com o presidente de Cuba, Raúl Castro. ;Ficamos felizes com as libertações;, afirmou Amorim, em Pretória (África do Sul). ;A Igreja mediou sem ser acusada de ingerência.;
Ismely Iglesias, médico pessoal do dissidente cubano Guillermo Fariñas (Espanhol)
Reina Tamayo, mãe do dissidente cubano Orlando Zapata, morto após 85 dias de greve de fome
Clara Pérez Gómez, mulher do dissidente cubano Guillermo Fariñas (Espanhol)