postado em 11/07/2010 08:38
;Imagine uma alegria muito grande;, disse a cubana Moralinda Paneque Martines, que passou sete de seus 74 anos indo e voltando da prisão de Las Mangas, em Bayamo, a 665km de Havana. As visitas ao filho, o jornalista e cirurgião José Luis García Paneque, 42 anos, não mais serão repletas de dor e saudade. Por volta das 13h30 deste sábado (10/7)(14h30 em Brasília), Moralinda e sua família preparavam-se para viajar até a capital cubana. Ali, reencontrariam José Luis e partiriam rumo a uma nova vida, na Espanha.No início da tarde, o regime de Raúl Castro começou a cumprir sua promessa, iniciou a libertação dos presos durante a chamada Primavera Negra(1) e revelou que soltaria mais seis prisioneiros, além dos cinco acordados com o cardeal Jaime Ortega. ;Meu filho me telefonou e me preparou, dizendo que viriam me buscar para irmos a Havana. Ele já saiu da prisão e está muito emocionado;, disse Moralinda, em entrevista ao Correio, por telefone, da cidade de Amancio Rodríguez, a 640km da capital. Questionada sobre o fato de ter que deixar Cuba, ela garante: ;Estou muito tranquila, pois estarei junto dele;. Às 15h30, a reportagem voltou a entrar em contato com Moralinda, mas ela já havia partido ao encontro do filho.
Em Ciego de Ávila (centro), a 208km dali, Oleidys García se engajava ontem em um ritual aguardado desde 2003. ;Estou retirando as coisas de casa, para alojar parentes que desejarem morar aqui. Acabo de receber a informação de que Pablo Pacheco e as autoridades virão, agora à tarde, e nos buscarão, a fim de viajarmos à capital;, relatou à reportagem, também por telefone, a mulher do jornalista condenado a 20 anos de cadeia, sob o status de ;prisioneiro de consciência;. ;Em Havana, creio que teremos acesso aos trâmites e aos papéis, para nossa transferência à Espanha. Meu objetivo é estar com a família reunida. Provavelmente na terça-feira, vamos a Madri não como refugiados políticos, mas como imigrantes;, explica Oleidys. ;Voltaremos ao país quando desejarmos, essa é nossa terra;, acrescenta. Ela acredita que a libertação dos 52 prisioneiros políticos será ;o grande começo de um bom futuro para Cuba;.
Também por telefone, Laura Pollán ; fundadora do movimento Damas de Branco ; confirmou ao Correio que Pablo e José Luis foram retirados da prisão e provavelmente seriam levados a Havana. Apesar de admitir estar contente com o processo de libertação em andamento, a ativista demonstra preocupação. ;O preso Pedro Arguelles telefonou para o cardeal Ortega e disse que também desejava viajar à Espanha, mas as autoridades negaram sua soltura;, conta. ;Não podemos ver essa libertação como algo geral. Apenas alguns saíram da prisão e não puderam retornar para casa. Temos que ver se essa liberdade será condicionada;, acrescenta. Laura afirma ainda não saber o que ocorrerá com os libertados que não desejarem se mudar para Espanha.
Pelo menos cinco presos políticos ; Normando Hernández González, Julio C. Gálvez Rodríguez, Omar Ruiz Hernández, Mikhail Bárzaga Lugo e Ricardo González Alfonso ; se juntaram à lista de libertados ontem. A Arquidiocese de Havana anunciou que os dissidentes também ;sairão em breve com destino à Espanha;. A expectativa é de que o primeiro grupo de prisioneiros chegue a Madri amanhã.
Ajuda no exterior
De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, serão 11 libertados ; um deles ainda não teve o nome divulgado ;, acompanhados de 67 parentes. Eles devem viajar em voos comerciais e, nas mãos, além das malas, vão levar um visto de residência. ;Em um primeiro momento, indicou-se que se procederia com a libertação de cinco, mas hoje tivemos a notícia, com os contatos mantidos com as autoridades cubanas e a Igreja Católica cubana, de que seis mais serão libertados;, disse Moratinos à agência de notícias EFE. Todos vão receber ajuda do governo espanhol, em parceira com organizações humanitárias, moradia e assistência para conseguir um emprego por pelo menos um ano.
O Vaticano comemorou a libertação dos presos políticos e espera que haja uma ;transformação; na ilha. ;Boas notícias que esperávamos há algumas semanas, sinais significativos que, desejamos, indiquem um progresso estável através daquele clima de renovada convivência social e política que todos queremos para a nação cubana;, disse o porta voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
- Noite de terror
Na madrugada de 18 de março de 2003, o governo de Cuba fez uma operação com centenas de policiais para prender opositores políticos, sindicalistas e jornalistas independentes. Ao todo, 75 pessoas foram detidas. Em abril do mesmo ano, elas foram julgadas e receberam penas de 14 a 27 anos por crimes contra a ;independência territorial do país;. O ato foi repudiado pela comunidade internacional e pela Organização Internacional de Direitos Humanos. Por causa do estado de saúde debilitado, 23 prisioneiros foram libertados com mediação do governo espanhol.