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Primeiro grupo de ex-prisioneiros políticos desembarca em Madri

Chanceler espanhol assegura que o regime castrista libertará todos

postado em 14/07/2010 07:00
Os sorrisos, os acenos e o gesto do V (de vitória) eram o indício de que um pesadelo definitivamente tinha ficado para trás. Assim que o voo 052 da companhia Air Europa tocou o solo do Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri, às 12h49 de ontem (7h49 em Brasília), os cubanos Pablo Pacheco, José Luis García Paneque, Léster González (leia entrevista abaixo), Antonio Villarreal, Julio César Gálvez e Omar Ruiz ganharam o status de ;imigrantes;e o benefício da residência permanente na Espanha. Estavam acompanhados de 33 familiares.

Cerca de uma hora mais tarde, juntou-se ao grupo de ex-prisioneiros políticos o sétimo libertado, o jornalista Ricardo González, que chegou a bordo de um avião da Iberia. Todos foram recebidos pela Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (Cear) e por representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Chanceler espanhol assegura que o regime castrista libertará todosO ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, assegurou que todos os 164 presos políticos cubanos serão soltos. ;Tudo tem sua hora, seu processo e seu trabalho;, disse, citado pela agência de notícias EFE. Ele também revelou que outros quatro ex-prisioneiros chegarão à Espanha entre hoje e amanhã, como parte das 52 libertações acordadas entre a Igreja Católica e o regime castrista. São eles Omar Rodríguez, Normando Hernández González, Luis Milán e Mijail Bárzaga. O chanceler garantiu ainda que a União Europeia mudará sua política em relação à ilha socialista a partir de setembro.

;Vamos ajudá-los a buscar a estabilidade;, prometeu Maria Jesus Arzuaga, presidenta da Cear. ;Eles já têm uma vantagem, pois estão acompanhados de suas famílias;, acrescentou, em entrevista à Rádio Nacional da Espanha (RNE). Ela alertou que o processo de adaptação não será fácil e revelou que a maior parte dos ex-prisioneiros não viverá em Madri. Segundo Arzuaga, organizações humanitárias darão aos cubanos um ;estatuto de proteção internacional;, além de ;dar-lhes alojamento, garantir sua alimentação e saúde e, no caso das crianças, a educação;. Ainda no aeroporto, Gálvez leu um comunicado em nome de todos os libertados. ;Ficam 45 irmãos do ocorrido em maio de 2003 e muitos detidos nas prisões de Cuba, e nos hospitais;, declarou, referindo-se à Primavera Negra. Ricardo González completou: ;Somos o início de um caminho que pode ser o começo de uma mudança no país;.

O governo norte-americano saudou o gesto do governo de Raúl Castro como um ;acontecimento positivo;. ;Os Estados Unidos continuam a pedir a libertação imediata e incondicional de todos os prisioneiros políticos, mas este é um acontecimento positivo que, esperamos, marcará um avanço para um respeito maior aos direitos humanos e às liberdades fundamentais em Cuba;, afirmou Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, parabenizou ontem Cuba. ;Aplaudimos o gesto do governo cubano porque achamos que isso aponta num sentido que deveria ser o certo e (espero que) as mudanças econômicas também venham com as (mudanças) políticas;, comentou.

Em Havana, a ativista pró-direitos humanos Yoani Sánchez afirmou à reportagem que recebeu com alegria e com um ;sentimento beneplácito; a notícia da chegada dos ex-presos a Madri. ;É o primeiro passo de um largo caminho necessário para a nação cubana, rumo à abertura e à flexibilização;, admitiu. Em recuperação após pôr fim ao jejum 135 dias, o jornalista Guillermo Fariñas reagiu positivamente. ;Abriu-se uma janela e é preciso aproveitá-la;, disse ao jornal El País.

Nova visita de Fidel
O ex-presidente Fidel Castro visitou ontem um centro de pesquisas em Havana, um dia depois de dar entrevista a um programa de TV. Vestindo camisa xadrez azul-clara, Fidel aparece nas imagens sentado, presidindo uma mesa de debates no Centro de Pesquisas da Economia Mundial. Estava com a mulher, Dalia Soto del Valle, e com o filho Antonio.

Cobrança da oposição

De presos a exilados

Léster Luis González Pentón
Nascido em 22 de fevereiro de 1977, aderiu ao Movimento Pró Direitos Humanos Razão, Verdade e Liberdade em 1998. Foi condenado a 20 anos de prisão. Jornalista independente, estava detido na Penitenciária Kilo 8, na província de Camaguey. Durante o tempo no cárcere, teve vários problemas de saúde, incluindo hérnia.

Antonio Villarreal
Economista, 59 anos, foi condenado a 15 anos de prisão por fazer parte do movimento ilegal Movimento Cristão de Libertação (MCL), liderado pelo dissidente Oswaldo Payá. Somou-se à militância anticastrista em 1992. É casado e tem dois filhos.

Pablo Pacheco Ávila
Com 40 anos, iniciou sua militância cedo e foi preso pela primeira vez em 1991 ; condenado a 3 anos e 6 meses por ;propaganda inimiga;.

Em 2003, foi sentenciado novamente a 20 anos.
Cumpria a pena no Centro Penitenciário Provincial de Aguica, na província de Matanzas. Tem um filho.

Jose Luis Garcia Paneque
Nascido em 24 de julho de 1965, formou-se em medicina e especializou-se em traumatologia e em cirurgia plástica. Casado com Yamilé Yánez, ambos têm quatro filhos. Foi expulso do hospital em que trabalhava, em Las Tunas, e incorporou-se à agência de imprensa Liberdade. Cumpria 24 anos de prisão.

Julio Cesar Galvez
Aos 65 anos, é jornalista de Havana. Em 2001, foi expulso por colaborar com meios opositores e estrangeiros, como a emissora Voz da América e o jornal Nuevo Herald, de Miami. Casado com a também jornalista Beatriz del Carmen Pedroso, havia sido condenado a 15 anos de prisão.

Omar Moisés Ruiz Hernández
Técnico em contabilidade, tem 62 anos ; 20 deles dedicados à oposição ao regime cubano. Trabalhou como jornalista para uma agência dissidente. Nascido em Santa Clara e oriundo de uma família batista, cumpria 18 anos de detenção. Tem problemas de próstata e hipertensão.

Ricardo González Alfonso
Aos 60 anos, o jornalista independente de Havana trabalhou para a organização não governamental Repórteres sem Fronteiras. Sentenciado a 20 anos de prisão, mantinha uma biblioteca em sua casa. Foi operado quatro vezes na cadeia. Tem dois filhos.

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