Agência France-Presse
postado em 14/07/2010 15:12
Dois ex-presos políticos cubanos chegaram nesta quarta-feira (14/7) ao aeroporto de Madri, somando-se aos sete que chegaram ao país ontem, mais uma parte dos 52 que o regime de Havana decidiu libertar. É esperada a chegada de outros dois nesta quinta-feira.Trata-se dos jornalistas Normando Hernández, 40 anos, condenado a 25 anos de prisão, e Omar Rodoríguez, 44 anos, diretor da Agência Nueva Prensa e condenado a 27 anos de prisão.
Ambos chegaram ao aeroporto madrilenho de Barajas às 14h locais (9h de Brasília) em um voo comercial da Ibéria acompanhados de 13 familiares, afirmou à AFP uma fonte do ministério espanhol de Assuntos Exteriores.
[SAIBAMAIS]Os dois somam-se aos sete ex-presos políticos que chegaram na terça-feira a Madri, primeiro grupo dos 52 indivíduos que o governo cubano decidiu libertar. São eles Pablo Pacheco, José Luis García Paneque, Léster González, Antonio Villarreal, Julio César Gálvez, Omar Ruíz e Ricardo González.
Do aeroporto, os ex-presos políticos foram levados a um albergue em um bairro dos arredores de Madri, onde também se encontram os outros sete, afirmou à AFP um membro da dissidência cubana na Espanha que os acompanha.
Lá, a Cruz Vermelha deve atender as necessidades de saúde, membros do governo espanhol iniciarão os trâmites para que obtenham permissões de residência e de trabalho e trabalhadores da Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (CEAR) os levarão a um alojamento em Madri e a outra cidade espanhola.
A previsão é que cheguem à Espanha na quinta-feira outros dois ex-presos: Luis Milán, 40 anos, e Mijail Bárzaga, 43 anos, segundo a fonte.
Todos eles foram detidos durante a chamada "primavera negra de 2003", uma onda de detenções de dissidentes que provocou uma dura reação da União Europeia (UE). Do total de 52 que serão libertados, 20 aceitaram ir à Espanha, outros países também se ofereceram para acolhê-los.
Segundo a ilegal, porém tolerada pelo governo cubano, Comissão Cubana de Direitos Humanos, com a libertação dos 52 opositores, a maior em mais de uma década, restarão 115 presos políticos na ilha.
O governo Raúl Castro anunciou essas libertações na semana passada, durante a visita a Cuba do ministro espanhol de Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, que fez a mediação com o regime junto com a Igreja Católica cubana para a libertação de dissidentes.
Moratinos assegurou na terça-feira que, com essas libertações, "o cenário que se abre em Cuba (...) implica uma nova vontade do governo cubano" de "fechar de forma definitiva a libertação de presos políticos" e de avançar "em matéria de reformas econômicas e sociais". O ministro afirmou que se trata também de "uma oportunidade que não devemos deixar de aproveitar para redefinir a relação da União Europeia com Cuba".
Moratinos promove há anos diante da UE uma aproximação com Havana por meio da supressão da posição comum na qual os 27 países pedem à ilha uma transição rumo à democracia.
No lugar, nos últimos meses, defendeu a assinatura de um acordo de cooperação no qual o regime comprometa-se a respeitar os direitos humanos e as liberdades, depois da morte por greve de fome em fevereiro do preso político Orlando Zapata e do jejum de quatro meses promovido pelo dissidente Guillermo Fariñas.
O presidente do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, comentou nesta quarta-feira na Câmara dos Deputados a "influência" do executivo espanhol na decisão das autoridades comunistas cubanas de libertar 52 presos políticos. "Ontem, nossa influência tornou-se palpável para que um grupo de cidadãos cubanos desfrutasse, em nosso solo, de sua própria liberdade", disse durante discurso no debate anual sobe o Estado da Nação.