postado em 15/07/2010 09:07
Bem que o presidente Nicolas Sarkozy tentou contornar a mais aguda crise de seu governo, no dia em que a França comemorou sua principal data nacional, mas um novo escândalo obscureceu a festa. Enquanto Sarkozy recebia em Paris chefes de Estado e governo de 13 países africanos, para as comemorações da Queda da Bastilha, o jornal satírico semanal Le Canard Encha;né publicou refortagem acudando o ministro do Trabalho, Eric Woerth ; já envolvido no financiamento irregular da campanha presidencial ;, de ter vendido um hipódromo a um conhecido por preço quase 10 vezes inferior ao de mercado. A transação teria sido feita uma semana antes de Woerth deixar o posto de ministro do Orçamento, em março deste ano.Durante a parada militar na Avenida Champs-Elysées, o ministro desmereceu como ;tolices; as novas acusações. ;Não foi vendido um pedaço de pão. A cessão do hipódromo de Compi;gne ocorreu de forma absolutamente legal, por meio da política de venda de imóveis do Estado;, afirmou Woerth. Ele criticou ainda a reportagem do Canard Encha;né, que faria parte de um ;esforço da imprensa; para destruir sua imagem. ;Isso não é jornalismo, é algo maldoso. É coisa de pessoas que chafurdam na lama e prova que, se alguém quer acabar com a sua imagem, fará de tudo para conseguir;, declarou à rádio Europe 1.
De acordo com o semanário satírico, Woerth vendeu uma cota do bosque de Compi;gne (norte de Paris) com seu hipódromo e seu campo de golfe à Société des Courses de Compi;gne, que até então alugava o terreno. O preço pago pelo presidente da sociedade, Antoine Gilibert, que é conhecido do ministro, foi de 2,5 milhões de euros (R$ 5,6 milhões), enquanto o valor real estimado é de 20 milhões de euros (R$ 44,5 milhões). Esse é o segundo grande escândalo no qual Woerth se vê envolvido em menos de um mês. Ele também é acusado de ter recebido, em dinheiro, 150 mil euros (R$ 334 mil) da herdeira da L;Oréal, Liliane Bettencourt, para a campanha de Sarkozy à presidência, em 2007.
Nesta semana, o presidente chegou a ir à TV para reafirmar sua confiança no ministro, mas pediu que ele deixasse o posto de tesoureiro no partido União para um Movimento Popular (UMP), do qual Sarkozy é o principal líder. Woerth já considerou até mesmo renunciar ao posto de ministro ; possibilidade que parece cada vez mais próxima, considerando as novas denúncias. O financiamento é ilegal segundo a legislação francesa, que limita a 4.600 euros as doações a candidatos por pessoas físicas e determina que o repasse de verbas somente pode ser feito em dinheiro vivo quando inferior a 150 euros. Ontem, a herdeira da L;Oréal anunciou que fará uma auditoria sobre sua fortuna.
Desfile polêmico
A polêmica não se limitou ao palanque do governo durante a festa do Dia da Bastilha. Por conta do cinquentenário da independência das ex-colônias francesas na África, tropas de 13 países do continente foram convidadas a marchar na avenida símbolo de Paris. A oposição ao convite veio primeiro de organizações não governamentais, como a Federação Internacional de Ligas dos Direitos Humanos, que criticaram a participação de ;criminosos de guerra e outros predadores dos direitos do homem; no desfile. ;Estamos escandalizados com a presença na tribuna oficial de ditadores que atiram no próprio povo;, afirmou à agência France Presse Odile Tobner, presidente da Associação Survie. Outros grupos protestaram contra a retomada do tema, em um clima de aparente submissão das ex-colônias.