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Ex-presos voltam a criticar Lula

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que estava ;feliz; com a libertação dos presos políticos cubanos não foram suficientes para apagar o mal-estar causado entre os dissidentes durante sua visita à ilha, em fevereiro passado. Durante entrevista coletiva, em Madri, dois ex-prisioneiros voltaram a condenar a postura do mandatário brasileiro, que teria se ;aliado ao crime e não à Justiça;. Lula é criticado pela omissão no caso de Orlando Zapata, opositor que morreu horas depois da chegada de Lula a Havana, após 85 dias de greve de fome. Os cubanos também reclamaram do tratamento recebido do governo espanhol ; que os concedeu o status de imigrantes, e não de refugiados políticos ; e narraram o ;inferno; vivido na prisão.

;Quando ocorreu a tragédia com Orlando Zapata, o presidente Lula estava apertando as mãos de Fidel e de Raúl Castro. Ele não mediou, não levantou a voz para salvar a vida de Zapata. Isso significa que ele se aliou ao crime e não à Justiça;, disse Ricardo González Alfonso, um dos sete presos libertados na última terça-feira. Segundo o também dissidente Omar Rodríguez Saludes, Zapata poderia ter possibilidades, ;mesmo que remotas;, de sobreviver caso Lula tivesse intercedido por ele. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o também dissidente Pablo Pacheco Ávila sugeriu que Lula pedisse desculpas por ter comparado os presos políticos em Cuba a prisioneiros comuns. ;Todos podem se equivocar. Talvez ele possa se desculpar conosco um dia, porque não temos nada a ver com os presos comuns de São Paulo ou Rio;, afirmou o opositor.

O Planalto e o Itamaraty não quiseram comentar as declarações dos cubanos. No entanto, o senador tucano Alvaro Dias (PSDB-PR) aproveitou a manifestação dos dissidentes para criticar o governo no Plenário do Senado. ;Creio que vai se tornando rotina na vida de todos nós, brasileiros, assistir a espetáculos em que o presidente Lula passa a mão na cabeça de todos os ditadores do mundo, afronta os direitos humanos e as liberdades democráticas, convive com os totalitários, avalizando as suas perversas atitudes, que vão desde prender adversários políticos até levá-los à morte;, disse.

Ratos e baratas
Na coletiva, seis dos 11 dissidentes libertados narraram as condições precárias com as quais viveram nos últimos anos. ;Convivíamos com escorpiões, baratas, ratos e fezes. Para comer, nos davam ;caldo de Girafa;, que tem esse nome porque tínhamos que esticar o pescoço para buscar o que não havia no prato;, contou Julio César Gálvez. ;As condições de saúde e de higiene não são terríveis. São mais do que terríveis;, acrescentou. Ontem, mais dois presos chegaram à Espanha ; Luis Milán, 40 anos, e Mikhail Bárzaga, 43. Do total de 52 dissidente que serão libertados, 20 aceitaram ir à Espanha, enquanto que outros países também se ofereceram para acolhê-los.