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Físico iraniano diz que EUA queriam fazer uma troca de espiões com Teerã

Agência France-Presse
postado em 18/07/2010 10:59
O físico iraniano Shahram Amiri, que diz ter sido sequestrado em junho de 2009 na Arábia Saudita por agentes da inteligência americanos, declarou que os Estados Unidos propuseram a ele que fizesse parte de uma "troca de espiões" com Teerã.

Em uma longa entrevista difundida na noite desse sábado (17/7) pela televisão estatal, dois dias depois da volta ao Irã, Shahram Amiri afirmou que os serviços de inteligência americanos propuseram entregá-lo a Teerã como parte de um intercâmbio com três espiões americanos presos pelo Irã, referindo-se a três excursionistas detidos há um ano na fronteira com o Iraque.

"Os agentes americanos queriam que eu dissesse que era um agente dos serviços iranianos infiltrado na CIA", afirmou. "Disseram que, nesse caso, eu poderia fazer parte de um intercâmbio, e voltar ao Irã em troca da volta dos três espiões americanos detidos na fronteira iraquiana", acrescentou.

O cientista acrescentou que os agentes fizeram essa proposta em junho passado, depois de saber que havia conseguido entrar em contato com os serviços de inteligência iranianos quando se encontrava nos Estados Unidos.

Três jovens americanos, Shane Bauer (27 anos), Sarah Shourd (31) e Josh Fattal (27) foram presos em 31 de julho de 2009 por ter atravessado a fronteira entre o Irã e o Iraque.

Dirigentes iranianos afirmam que os três americanos, ainda presos, poderão ser julgados por entrada ilegal no território do país e, inclusive, por espionagem.

Amiri repetiu em na entrevista que foi sequestrado em junho do ano passado por agentes da inteligência americanos e saudita na Arábia Saudita e transferido para os Estados Unidos.

Washington assegura que Amiri se encontrava no país por vontade própria.

Na entrevista, Amiri insistiu que os agentes americanos teriam tirado falsas conclusões sobre as pesquisas, e explicou que ele é um simples pesquisador de física médica da universidade iraniana de Malek Ashtar, e que não está envolvido no programa nuclear do país.

"Queriam saber se eu realizava pesquisas no âmbito nuclear. Eles me faziam perguntas que não vinham ao caso e queriam vincular o programa pacífico do Irã a questões nucleares", declarou Amiri.

Segundo o cientista, os agentes mostraram "documentos sobre os métodos de fabricação de armas atômicas", e pediram a ele que dissesse aos meios de comunicação americanos que ele os havia levado com ele para os Estados Unidos.

Amiri acrescentou que esses agentes escoltaram Amiri para que se entregasse ao escritório de interesses iranianos na embaixada do Paquistão em Washington.

Por último, rejeitou as afirmações da imprensa americana segundo as quais recebeu US$ 5 mi por desertar.

Shahram Amiri desapareceu em junho de 2009 na Arábia Saudita, para onde havia viajado para uma peregrinação muçulmana. Teerã afirma que ele foi sequestrado pelos Estados Unidos com a ajuda dos serviços de inteligência sauditas.

Na terça passada, Amiri se refugiou no escritório de interesses do país na embaixada do Paquistão, e disse ao canal de televisão iraniano Press TV que, durante os últimos 14 meses, foi "submetido a uma pressão psicológica grande e vigiado por homens armados".

Ao ser informado de que o Amiri havia se refugiado na representação iraniana, o departamento de Estado americano declarou que o cientista iraniano se encontra nos Estados Unidos por vontade própria e é livre para partir quando quiser.

O cientista, no entanto, não indicou o lugar da detenção nem como conseguiu chegar à embaixada do Paquistão, que abriga a seção de interesses iranianos desde a ruptura das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a República Islâmica há 30 anos.

No fim de março, o canal americano ABC afirmou que Amiri, apresentado como um físico nuclear, havia desertado e estava colaborando com a CIA.

Segundo a imprensa iraniana, Amiri é um "pesquisador de radioisótopos médicos da Universidade Malek Ashtar", subordinada à Guarda da Revolução, o exército ideológico do regime islâmico.

Em 7 de junho, a televisão estatal iraniana difundiu um vídeo no qual um homem que diz se chamar Amiri afirmava ter sido sequestrado pelos serviços secretos americanos e estar detido perto de Tucson (Arizona, sudoeste dos Estados Unidos).

Depois o Irã solicitou, por vias legais, informações sobre ele.

Os Estados Unidos sempre desmentiram ter sequestrado o físico e até então se negavam a esclarecer se ele se encontrava ou não no território.

No fim de junho, outro vídeo divulgado pelos meios de comunicação iranianos mostrava o mesmo homem que dizia ter fugido e que se encontrava em Virgínia (leste).

O Irã convocou em 7 de julho o adido de negócios da embaixada suíça, que representa os interesses americanos em Teerã, para protestar contra o sequestro de Amiri pela CIA.

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