postado em 22/07/2010 08:32
Com um par de binóculos, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, olhou em direção à Coreia do Norte. Estava acompanhada do secretário de Defesa, Robert Gates. A visita ao posto de observação perto do vilarejo de Panmunjom, na chamada Zona Desmilitarizada (DMZ), deixou-a impressionada. ;Nesses 20 anos, desde que eu subi naquela torre de observação e olhei para fora, através da DMZ, é impressionante como pouca coisa mudou lá e o quanto a Coreia do Sul continua a crescer e a prosperar;, afirmou Hillary. A simbólica visita provavelmente deu à chefe da diplomacia de Washington a certeza de que estava prestes a tomar a atitude certa. Horas depois, ela anunciou um novo pacote de sanções econômicas e financeiras contra o programa nuclear de Pyongyang. Conseguiu atrair o ceticismo de analistas políticos e a ira da China, um importante aliado do ditador King Jong-il.As novas medidas contra a Coreia do Norte teriam os objetivos de limitar a compra e a venda de armas e de congelar os ativos de um regime cada vez mais marginalizado (veja quadro). ;Elas são destinadas a melhorar nossa capacidade de evitar a proliferação norte-coreana, de pôr fim a suas atividades ilícitas, que ajudam a financiar seus programas de armamento, e de desencorajar outros atos de provocação;, afirmou Hillary, durante entrevista coletiva em Seul. ;Tais sanções não são direcionadas ao povo da Coreia do Norte, que tem sofrido há bastante tempo por causa das prioridades equivocadas de seu governo. Elas são dirigidas às políticas desestabilizadoras, ilícitas e provocativas perseguidas por aquele regime;, acrescentou.
A expectativa do governo norte-americano é de que as sanções reforcem a aplicação das resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ; aprovadas após os testes nucleares e de mísseis de Pyongyang. A partir de agora, fica cada vez mais dificultado o contrabando de artigos de luxo, bastante consumidos pela elite norte-coreana, principalmente licores e cigarros. Hillary avisou que os EUA vão ;identificar, pressionar e impedir negócios com entidades da Coreia do Norte envolvidas na proliferação e em outras práticas ilícitas no exterior;. A suspeita de que Pyongyang estaria por trás do naufrágio da corveta sul-coreana Cheonan, em 26 de março passado, teria forçado a Casa Branca a ampliar o cerco ao país comunista.
O porta-voz da chancelaria chinesa, Qin Gang, exortou os EUA e a Coreia do Sul à moderação. ;Incitamos as partes a permanecerem calmas, a exercitarem o autocontrole e a não fazerem nada que exacerbe as tensões regionais;, declarou. A preocupação de Pequim tornou-se maior com a proximidade de exercícios navais conjuntos entre Seul e Washington, na Península Coreana. A partir de domingo, 20 navios de guerra e submarinos, 100 aeronaves e 8 mil militares simularão manobras de guerra.
Imprudência
Para Jim Walsh, especialista em segurança internacional do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, pela sigla em inglês), é preciso esclarecer se as sanções e as visitas de alto nível (de Gates e de Hillary) são ferramentas para tranquilizar a Coreia do Sul ou para apertar a Coreia do Norte. ;Creio ser imprudente escalar a pressão contra Pyongyang no momento em que inicia-se a transferência de poder de Kim Jong-il para o filho caçula, Kim Jong-un;, alerta, em entrevista ao Correio, por e-mail. Ele defende que, em um momento tão delicado, a Casa Branca deveria priorizar o diálogo com a Coreia do Norte, em vez de impor novos obstáculos e demandas. ;As sanções podem ter consequências imprevisíveis, dificultar a diplomacia e levar a uma crise na Península Coreana;, adverte.
A mesma percepção tem o sul-coreano Yong Chen, pós-doutor pela Universidade de Cornell e professor da Universidade da Califórnia-Irvine. ;Não estou certo se as sanções atingirão as metas pretendidas. Os EUA já tentaram congelar bens de envolvidos em proliferação nuclear, mas fracassaram;, afirma à reportagem.
Mais punições
Medidas anunciadas pela secretária de Estado, Hillary Clinton, buscam dificultar programa nuclear norte-coreano
Contrabando de luxo
A venda ilícita de cigarros, licor e comida exótica para a elite norte-coreana será dificultada. As autoridades norte-americanas sustentam que o contrabando desses produtos fomenta o programa nuclear de Pyongyang
Armas
A venda e a aquisição de armas e armamentos para a Coreia do Norte será proibida
Bloqueio de bens e de contas
Os Estados Unidos congelarão os ativos de empresas e indivíduos envolvidos com atividades de proliferação nuclear
Proibição de viagens
Quem comercializar material relacionado à tecnologia nuclear ficará proibido de viajar para o exterior
Transações ilegais
O governo norte-americano vai colaborar com bancos para deter as transações financeiras ilegais