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Consciência moral da África do Sul, o ex-arcebispo Desmond Tutu anuncia saída da política

Agência France-Presse
postado em 22/07/2010 17:27
Considerado a consciência moral da África do Sul, Desmond Tutu, que anunciou hoje (22/7) a retirada da vida política, contribuiu para derrubar o apartheid, colocando a verve a serviço da reconciliação racial no país e da paz no mundo.

"Tive a imensa chance de contribuir um pouco com o desenvolvimento de nossa Nação, com uma nova democracia apaixonante e exasperante", lançou nesta quinta-feira o ex-arcebispo anglicano da Cidade do Cabo e prêmio Nobel da Paz (1984), com a franqueza habitual. "Farei 79 anos em 7 de outubro e me retirarei da vida pública", anunciou, explicando que precisa "reduzir" o ritmo.

Vestido com a tradicional túnica púrpura, provocou risos na assembleia para a qual anunciou a despedida, prometendo servir, a partir de agora, cada manhã, "uma xícara de chocolate quente" à mulher "como deve fazer um marido devotado".

Essa capacidade de pontuar os discursos com risos, passos de dança ou lágrimas, valeram-lhe a afeição sincera dos compatriotas, que reconhecem o imenso trabalho para livrá-los do apartheid.

Nos anos 80, Monsenhor Tutu defendeu a aprovação de sanções econômicas internacionais contra o regime segregacionista, organizando grandes passeatas pacíficas na Cidade do Cabo.

Na chegada da democracia, em 1994, o promotor da fórmula The Rainbow Nation "Nação Arco-Íris" presidiu a Comissão Reconciliação e Verdade (TRC), criada para ajudar a virar a página dos exageros cometidos sob o antigo regime.

Arco-Íris porque a Republica da África do Sul com a diversidade de culturas, idiomas, é uma sociedade multiétnica onde juntamente com a maioria negra encontramos as minorias branca, mestiça e indiana.

Para se ter uma ideia, o país tem 11 línguas oficiais, entre elas as africanas como o Zulu, o inglês e o africâner, língua semelhante ao holandês.

Dono de um grande senso de humor, às vezes dirigido contra ele próprio, criticou os erros do ex-presidente Thabo Mbeki na luta contra a Aids ou os excessos judiciais de Jacob Zuma antes da ascensão à chefia do Estado.

Nascido em 7 de outubro de 1931 em Klerksdorp, a uma hora de Johannesburgo, Desmond Tutu teve poliomielite quando criança. Marcado por essa situação, desejou tornar-se médico, mas a família não tinha como pagar os estudos.

Tornou-se, então, professor, demitindo-se em seguida para protestar contra a educação de qualidade inferior reservada aos negros, entrando para o seminário. Ordenado padre aos 30 anos pela Igreja Anglicana, estudou e ensinou na Grã-Bretanha e em Lesoto, até se estabelecer em Johannesburgo em 1975.

Em 1986, foi nomeado arcebispo, tornando-se o primeiro negro a chegar à liderança da Igreja Anglicana da África do Sul.

Desmond Tutu é casado desde 1955 com Leah, com quem teve quatro filhos.

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