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Presidente Lula e dirigente da Unasul irão a Caracas e Bogotá na tentativa de remediar o rompimento entre Chávez e Uribe

postado em 24/07/2010 07:00
O conflito diplomático que irrompeu com a Venezuela já ameaça ofuscar a posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, dentro de exatamente duas semanas. Para mediar o rompimento das relações entre os dois vizinhos, o secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o argentino Néstor Kirchner, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se anteciparão à posse em Bogotá e visitarão Caracas, para reuniões com o presidente Hugo Chávez, nos dias 5 e 6. O mandatário equatoriano, Rafael Correa, presidente temporário da Unasul, avisou que convocará ;o mais rápido possível; uma reunião de chefes de Estado da organização. ;Nesse intervalo podemos, obviamente, atender à solicitação do presidente Chávez e tentar ver como mediamos e resolvemos esse conflito lamentável;, afirmou Correa.

Os três encontros tentarão resolver o conflito precipitado pela denúncia formal do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de que haveria 87 acampamentos de guerrilheiros colombianos na Venezuela, sob proteção de tropas regulares. Imagens que supostamente comprovariam a acusação foram exibidas em reunião extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que levou Chávez a anunciar o ;rompimento de todas as relações com o governo colombiano;. Não satisfeito, o presidente venezuelano reforçou as tropas na fronteira. ;As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas mantêm sua preparação operacional e estão prontas para obedecer às ordens do comandante em chefe e presidente da República;, declarou o ministro da Defesa, general Carlos Mata, ao canal de televisão oficial VTV. O ministro ressaltou que ;mais de 20 mil homens; estão em ;estado de alerta máximo; para responder a uma eventual ;agressão;.

A presidente do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, Luisa Estela Morales, também subiu o tom das declarações e disse que o órgão ajudaria a definir a estratégia do país, a partir de leis venezuelanas e do direito internacional. ;Foram analisadas as causas e as declarações que constituem no mundo diplomático uma agressão verbal contra o governo da Venezuela;, acusou Morales.

Nem Uribe nem Santos quiseram comentar os últimos passos do vizinho e rival. O secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para a América Latina, Arturo Valenzuela, manifestou a preocupação de seu governo e pediu que aos dois países sul-americanos que optem por ;um diálogo construtivo; e pelo ;respeito mútuo;. A posição americana de principal aliado da Colômbia foi reiterada pelo embaixador de Washington no Brasil, Thomas Shannon. Durante uma conferência em Brasília, ele ressaltou que os EUA reconhecem as denúncias feitas pela Colômbia na OEA como ;informações que também nos preocupam;. Shannon elogiou o papel do Brasil: ;Aplaudimos o papel de se comunicar diretamente (com ambos países) para insistir no diálogo e numa maneira de resolver a confrontação pacificamente;, disse.

Nas ruas
Enquanto Chávez desloca tropas para reforçar os 2.219 km de fronteira e Uribe se cala sobre o rompimento das relações diplomáticas, cidadãos comuns sofrem as consequências da crise. ;Não sei por que Uribe não pode entregar o governo pacificamente a Santos e deixar essa questão das Farc para depois;, reclamou ontem à reportagem a colombiana Mabel García. A dona de casa vive nas Ilhas Margaritas (Venezuela) há cinco anos e tem dois filhos nascidos no país vizinho. Ela tinha prazo até 31 de julho para renovar sua documentação como residente, mas, com a retirada dos diplomatas colombianos e o fechamento de todas as repartições consulares do país na Venezuela, Mabel corre o risco de ficar em situação irregular. ;É um problema gravíssimo. Fico com medo de que me peçam os documentos e minha cédula já não sirva para nada. Também tenho medo de viajar à Colômbia e não poder entrar novamente na Venezuela.;

Nada a declarar
Em viagem ao vizinho Panamá, outro país mencionado com frequência como rota de tráfico de armas e drogas, além de refúgio para guerrilheiros, o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos (à esquerda na foto, cumprimentando o presidente Ricardo Martinelli), manteve o silêncio sobre a crise diplomática com a Venezuela. Santos, que toma posse no próximo dia 7, está em turnê pela América Latina e já visitou o México. Tem escalas programadas também na Costa Rica, Chile, Argentina, Peru e República Dominicana, mas ainda não acertou um encontro de alto nível com o governo brasileiro. A chanceler designada pelo presidente eleito, Maria Ángela Holguín, atua em outra frente, costurando a normalização de relações com o Equador, estremecidas desde o bombardeio a um acampamento das Farc em solo equatoriano ; autorizado por Santos, na época ministro da Defesa.

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