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Organizadores decidem acabar com a Love Parade depois de 19 morrerem pisoteados

postado em 26/07/2010 09:02
Uma manifestação de paz que começou na Berlim de 1989 e se converteu em um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, reunindo milhares de jovens, terminou em um domingo de dor e luto sem fronteiras. Cerca de 1,5 milhão de pessoas entre 20 e 40 anos de idade se reuniram no sábado para a Love Parade (Desfile do Amor, em inglês), realizada no oeste da Alemanha, na cidade de Duisburg. Um empurra-empurra para entrar na festa ; que tinha um túnel como única forma de acesso ; provocou a morte de pelo menos 19 jovens. Entre eles, duas estudantes espanholas, um chinês, um australiano, um italiano e um holandês morreram no tumulto. A polícia de Duisburg informou ao Correio, por telefone, que não havia brasileiros entre as vítimas. No entanto, as fontes policiais não descartam que haja brasileiros entre os 340 feridos, pois o evento reuniu, em sua maioria, jovens do Brasil, da Espanha, da Holanda e da Austrália. O policial Detlef von Schmeling detalhou que ;quatorze pessoas morreram nos degraus de metal na saída do túnel e duas, numa parede fora do túnel;.

O organizador do festival, Rainer Schaller, decidiu que nunca mais o evento será realizado. Schaller disse ontem em coletiva de imprensa que não consegue expressar o choque que sentiu com a tragédia. ;Nossa vontade de reunir a alegria foi obscurecida pelo trágico incidente de 24 de julho. Portanto, estamos terminando com a Love Parade;, anunciou a equipe do festival em sua página na internet. Por outro lado, o DJ Dr. Motte, criador da festa, culpou a organização do evento. ;Só querem saber de ganhar dinheiro; os organizadores não mostraram o menor sentimento de responsabilidade pelas pessoas.; Ele considerou um escândalo haver apenas uma entrada para um evento que atrai multidões.

Local onde uma das vítimas morreu pisoteada. Na confusão, mais de 300 pessoas ficaram feridasAs autoridades agora investigam as razões da tragédia. A principal hipótese se concentra nas condições de segurança de um túnel de 200m de extensão e 30m de largura, única via para entrar e sair do festival realizado em uma antiga estação de trens de carga. ;As pessoas na rua estão chateadas e tristes. Querem responsáveis. Não pode ser que nos culpem por empurrar e sentir pânico! O calor, o cansaço, a multidão, a sede e o álcool ; tudo junto pode ser muito perigoso;, protestou a espanhola Rebeca Sánchez, que era uma das participantes da festa, ao jornal El País.

Plano de segurança
O prefeito de Duisburg, Adolf Sauerland, afirmou que um plano de segurança havia sido estabelecido antes do evento e considerou que era ainda muito cedo para culpar qualquer pessoa pelo incidente. A chanceler alemã, Angela Merkel, enviou suas condolências às famílias e aos amigos das vítimas. ;Jovens vieram para a festa, para se divertir. Em vez disso, houve morte e ferimentos. Estou horrorizada e triste;, disse ela.

Aproximadamente 1,4 mil policiais estavam presentes no local. Segundo a polícia, a área foi fechada ao atingir a superlotação, e quem tentava chegar ao local era orientado com megafones a dar meia-volta. Durante mais de uma hora, o túnel ficou abarrotado com pessoas que tentavam obedecer às ordens da polícia e voltar, jovens agressivos que empurravam os demais ou tentavam saltar as valas externas do túnel, além de outro grupo, que tentava escapar do sufoco escalando as valas para sair do túnel. O chefe de polícia, Rainer Wendt, disse ao jornal alemão Bild que a instituição já tinha avisado há cerca de um ano que a cidade de Duisburg ;era muito pequena para lidar com grandes massas de pessoas;.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, dezenas de ambulâncias e nove helicópteros participaram da ação de resgate. Depois do incidente, a organização abriu as saídas de emergência, mas decidiu continuar a festa. ;Poderia ter acontecido um desastre maior se tivessem interrompido tudo repentinamente;, explicou o porta-voz da cidade, Frank Kopatschek. Por volta das 21h, o fim da festa foi anunciado, e a multidão se dispersou lentamente, sem saber que o ;Desfile do Amor; tinha acabado em morte. Ontem, ao fim da missa dominical, o papa Bento 16, que é alemão, lamentou o incidente. ;Lembro na oração os jovens que perderam a vida;, afirmou.

Em Brasília, nunca houve tumultos

Gisela Cabral

Embora tenha sido criada na Alemanha, a festa de música eletrônica Love Parade acabou sendo copiada por outros países do mundo, entre eles, o Brasil. Em Brasília, por exemplo, os moldes da celebração europeia foram reproduzidos na Love, a Festa do Amor, evento fechado que chegou a reunir 15 mil pessoas em uma de suas últimas edições. Segundo Akira Sasaki, organizador da festa por 10 anos, a última edição ocorreu em 2008. ;A nossa Love celebrava a paz e a diversidade de públicos ao som da música eletrônica. Ao longo desse tempo não tivemos problemas. Prezamos sempre pela organização e pela estrutura de qualidade;, afirma.

Na opinião do organizador, o incidente que culminou na morte de pelo menos 19 pessoas na Alemanha é lamentável. ;Provavelmente tenha faltado organização. No nosso caso, quando vimos que a festa estava crescendo, mudamos de lugar. De uma mansão fomos para um clube, depois para o autódromo e até para a área externa de um estádio. As normas de segurança precisam ser respeitadas;, destaca. Para ele, a música eletrônica não incita a violência. ;Muito pelo contrário, as festas em geral são muito tranquilas. O lema é a paz e a junção de várias tribos num mesmo lugar;, enfatiza.

A Love brasiliense, conforme Sasaki, seguia os mesmos moldes da festa alemã, apesar de ser particular. ;Os mesmos estilos de música e o uso de trios elétricos;, diz. Apesar do anúncio do fim da festa pelos organizadores na Alemanha, ontem, Sasaki acha difícil que o evento acabe para sempre. ;Pode ser que o nome seja mudado. Acho difícil, pois é uma celebração de rua tradicional, assim como o carnaval no Brasil;, finaliza.

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