Agência France-Presse
postado em 26/07/2010 19:33
O presidente afegão Hamid Karzai acusou hoje (26/7) as forças internacionais de terem disparado um foguete e matado 52 "civis inocentes" no sul do Afeganistão, o que a OTAN desmentiu com firmeza, dizendo não haver "provas" dessas mortes.O chefe de Estado afegão condenou "o ataque de míssil a uma aldeia da província de Helmand.
[SAIBAMAIS]Se o erro for confirmado, esse será o mais grave desde setembro de 2009 quando mais de 100 pessoas, inclusive civis, foram mortas em um ataque aéreo da OTAN em Kunduz, no norte do país.
Segundo uma investigação dos serviços secretos afegãos (NDS), uma casa no distrito de Sangin, na província de Helmand, foi atingida na última sexta-feira "por um foguete disparado pelas tropas da Aliança Atlântica".
Karzai ordenou uma investigação para determinar quem, rebeldes ou forças da OTAN, estava por trás dos disparos.
À noite, o comando da OTAN desmentiu com firmeza as acusações, "totalmente sem fundamento" segundo eles, e assegurou que não havia "provas" das mortes dos civis.
Segundo o almirante Greg Smith, unidades da OTAN e do exército afegão foram alvo de tiros de armas pesadas e lança-foguetes (RPG).
"A força conjunta respondeu com ataques de helicóptero e de mísseis teleguiados contra os insurgentes", destacou o militar. "As forças da coalizão mataram seis insurgentes, inclusive um comandante talibã, segundo um relatório verificado no local e pelas fontes dos serviços de inteligência", afirmou o almirante.
No último sábado, dois moradores ouvidos por um jornalista da AFP no hospital de Kandahar, província vizinha, haviam afirmado, no entanto, que 40 civis poderiam ter sido mortos e feridos no dia anterior e que o mísseis haviam sido disparados por helicópteros das forças internacionais.
De acordo com os dois afegãos, um grupo de moradores deixou a aldeia sob pressão dos talibãs alertando para um iminente ataque da OTAN. Os moradores buscaram então refúgio em uma aldeia vizinha, que foi bombardeada pela força conjunta, segundo eles.
Abdul Ghafar, 45 anos, declarou ter perdido "duas filhas, um filho e duas irmãs" no ataque. Com seis outras famílias, eles fugiram da aldeia e se refugiaram a 500m, em outro povoado, o de Regey. Por volta das 16h30, "os helicópteros começaram a atirar contra uma casa e praticamente mataram todos no interior", afirmou.
Os civis são as maiores vítimas do conflito no Afeganistão, atingidos com frequência por ataques suicidas ou bombas artesanais rebeldes, segundo a ONU, mas também por bombardeios ou operações dos cerca de 150 mil soldados internacionais mobilizados no país.
As forças da OTAN conseguiram reduzir o número de perdas civis nos últimos meses, limitando os ataques aéreos.
Em 8 de julho, seis civis foram, no entanto, mortos acidentalmente por "tiros de artilharia" de soldados da OTAN na província instável de Paktia (sudeste), reconheceu a Aliança Atlântica, que já havia confirmado no dia anterior a responsabilidade na morte de seis militares afegãos.
Essa nova polêmica ocorre no momento da divulgação por um site especializado em inteligência, o Wikileaks, de dezenas de milhares de arquivos secretos do Pentágono sobre o Afeganistão de 2004 a dezembro de 2009 revelando erros das tropas internacionais.
De acordo com o jornal Guardian, um dos três veículos de comunicação que tiveram acesso aos arquivos, pelo menos 195 mortos civis estão registrados nesses arquivos, um número "provavelmente subestimado porque vários eventos controversos são omitidos nos relatórios diários das tropas no terreno".