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Airbus A-321 que tentava pousar em Islamabad cai com 146 passageiros e seis tripulantes

Desastre é o pior do país

postado em 29/07/2010 08:32

Kiran Alvi, 26 anos, morava em Clifton, um bairro costeiro de Karachi, e trabalhava no Departamento de Recursos Humanos da Engro Corporation, uma das maiores companhias do Paquistão. Era uma profissional competente, com MBA pela Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia. Ela pretendia ir até Islamabad, na próxima segunda-feira, a fim de rever a família. Por algum motivo, antecipou a viagem. Comprou um bilhete no voo ABQ-202 da empresa aérea Airblue e embarcou às 7h50 de ontem (23h50 de terça-feira, em Brasília) no Airbus A-321 pilotado por Pervaiz Iqbal Chaudry, um capitão com 35 anos de experiência e 25 mil horas no comando de aeronaves.

;Conversei com Kiran um mês atrás, quando eu era consultor da Engro. Ela se mostrava atuante nos projetos de bem-estar social;, disse à reportagem o jornalista Ahmed Tamji Aijazi, ex-colega da jovem, que vive em Karachi. O avião de Kiran se aproximava do Aeroporto Internacional Benazir Bhutto e Iqbal decidiu aguardar 15 minutos antes de tentar pousar em Islamabad. Chovia muito e a densa névoa dificultava a visibilidade. O A-321, com 146 passageiros e seis tripulantes, caiu no Parque Nacional das Colinas de Margalla, a 48km do aeroporto, por volta das 9h45. ;Ninguém sobreviveu;, admitiu o ministro do Interior do Paquistão, Rehman Malik, desmentindo a notícia de que seis pessoas teriam sobrevivido. Já o titular da pasta da Defesa, Ahmad Mukhtar, descartou sabotagem ou atentado terrorista.

Muhammad Alam, universitário paquistanês, conta o que viu no local do desastre aéreo (em inglês)


Entre os 152 mortos, havia 110 homens, 29 mulheres, cinco crianças e dois bebês. Dois americanos também constam na lista de vítimas. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ofereceu suas ;mais profundas condolências; às famílias. Foi o pior desastre da história da aviação paquistanesa. Até o fechamento desta edição, 115 corpos haviam sido levados a hospitais da capital e as autoridades ainda procuravam pelas duas caixas pretas da aeronave. Além de Kiran, Aijazi perdeu outro amigo no acidente, o diretor de marketing Muhammad Ali Mughal, 26 anos. ;Ele se casou no ano passado. Era um cara vibrante, sempre interessado em coisas novas e fã de música e de vídeos;, disse o jornalista.

Horror
O estudante de engenharia elétrica Muhammad Alam, 22 anos, conseguiu chegar ao local da tragédia por volta das 13h (hora local). Pelo menos 142 viaturas já trabalhavam freneticamente na busca por sobreviventes e 300 sacos eram usados para acondicionar os restos mortais. Por telefone, ele contou ao Correio que estava na universidade e foi informado por um colega sobre a queda do avião. ;Vi então que a fumaça se erguia do lado sul da cidade. Eu e meus amigos decidimos ir até lá;, relata Alam. ;Os helicópteros sobrevoavam a área. Escalamos a montanha por cerca de duas horas e chegamos até uns 200m dos destroços;, acrescenta. De acordo com ele, o combustível do avião incendiou-se e queimou a mata ao redor. ;Vimos as árvores pintadas de preto e partes de corpos espalhadas, eu não posso dizer quão horrível foi;, disse Alam. O universitário afirmou que uma espessa neblina cobria praticamente toda a capital paquistanesa pouco depois do acidente.

;Alguns corpos foram carbonizados e desintegrados, sendo impossível identificá-los. Outros se despedaçaram e espalharam pela floresta;, afirmou à agência France-Presse Syed Zahir Shah, oficial da equipe de resgate. ;As únicas partes que eu reconheci foram os rostos de duas mulheres e de uma criança.; Enquanto o cenário nas Colinas de Margalla era dantesco, no aeroporto o clima era de desolação. Segundo o site Dawn.com, centenas de amigos e parentes lotaram o saguão, na busca desesperada por informações.

Desastre é o pior do país

Causas conjugadas

Para o norte-americano William Waldock, especialista em desastres aéreos e professor da Universidade Aeronáutica Embry-Riddle (em Prescott, Arizona), uma combinação de fatores pode ter causado a queda do Airbus A-321, que fazia o voo ABQ-202. ;Acredito em uma microexplosão de ventos (tipo de tornado), falta de visibilidade e erro de navegação nos segundos finais, conjugados à chuva intensa;, afirmou, por e-mail. ;Em casos extremos, a chuva pode ser forte o bastante para incendiar as turbinas.;

Apesar da experiência do capitão Pervaiz Iqbal, Waldock não descarta erro humano. ;Esse fator está identificado em pelo menos 80% de todos os acidentes. No entanto, ele não se restringe ao piloto e engloba o mecânico que repara o avião de forma incorreta, o funcionário da companhia aérea que falhou ao passar dados meteorológicos à tripulação, a gerência da própria empresa, os fabricantes da aeronave;, explica. O perito americano destaca que testemunhas descreveram que o avião voava a uma altitude muito reduzida, pouco antes de cair. ;Se isso ocorreu, como e por que a aeronave baixou serão os focos da investigação;, conclui Waldock. (RC)

Os principais acidentes com aviões Airbus desde 1990

Um avião da companhia paquistanesa Airblue com 150 pessoas a bordo caiu ontem nas colinas que cercam Islamabad. Veja os principais acidentes com o Airbus desde 1990:

1990
14 de fevereiro: Um A-320 da Indian Airlines caiu ao pousar em Bangalore (Índia) causando 90 mortos.

1992
20 de janeiro: Um A-320 da companhia francesa Air Inter caiu perto de Estrasburgo (França): 87 mortos.

31 de julho: Um A-310-300 tailandês da companhia Thai Airways International caiu perto de Katmandu (Nepal) deixando 113 mortos.

28 de setembro: Um A-300 da Pakistan International Airlines caiu não longe de Katmandu: 167 mortos.

1993
14 de setembro: Um A-320 da companhia aérea alemã Lufthansa pegou fogo ao pousar em Varsóvia, causando dois mortos e 54 feridos.

1994
23 de março: um A-310 da companhia russa Aeroflot caiu na Sibéria: 75 mortos.

26 de abril: Um A-300-600 de Taiwan caiu no aeroporto japonês de Nagoya (Japão), causando a morte de 264 dos 271 passageiros que levava a bordo. A investigação atribuiu o acidente a um erro de pilotagem, mas recomendou também ao construtor revisar o sistema automático de pilotagem.

30 de junho: Um A-330 em teste caiu no final da pista no aeroporto francês de Toulouse (França): Sete mortos.

1995
31 de março: Um A-310-300 da companhia romena Tarom caiu três minutos depois de decolar de Bucareste: 60 mortos.

1997
26 de setembro de 1997: Um A-300 da companhia indonésia Garuda caiu perto de Medan (noroeste de Sumatra) sob um céu enegrecido pela fumaça procedente de incêndios florestais: 234 mortos.

1998
16 de fevereiro: Um A300-600 da companhia de Taiwan China Airlines (CAL) caiu perto do aeroporto de Taipei, depois de se chocar contra várias vivendas: Morreram no total 202 pessoas, as 196 que levava a bordo e seis moradores das casas atingidas.

11 de dezembro: Um A-310 da companhia Thai Airways International caiu perto do aeroporto de Surat Thani (sudeste de Tailândia), causando 101 mortos. O aparelho transportava 146 pessoas.

2000
31 de janeiro: Um avião da aerolínea Kenya Airways caiu em chamas no oceano Atlântico, apenas dois minutos depois de decolar do aeroporto de Abdjã (Costa do Marfim), deixando 169 mortos. Houve 10 sobreviventes.

23 de agosto: Um A-320 da Gulf Air cai nas águas do Golfo, com 135 passageiros e oito membros da tripulação a bordo, depois do registro de um incêndio num de seus motores.

2001
12 de novembro: um Airbus A300 da American Airlines cai em Nova York pouco depois de sua decolagem: 265 mortos, as 260 pessoas a bordo do avião e os cinco habitantes do bairro de Queens que tiveram sua casa incendiada.

2006
3 de maio: 113 pessoas morreram na queda de um Airbus A320 da companhia armênia Armavia, quando estava a ponto de aterrissar no aeroporto de Sochi (sul da Rússia).

9 de julho: 140 pessoas, entre as quais oito tripulantes, morrem no acidente de um Airbus A310 russo que caiu e se incendiou ao pousar em Irkutsk (Sibéria).

2007
17 de julho: 199 mortos quando um Airbus A320 da companhia brasileira TAM se chocou contra um depósito do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e pegou fogo.

2009
1; de junho: um Airbus A330 da Air France caiu no mar entre o Brasil e a França: 228 mortos.

30 de junho: um Airbus A310 da companhia ienemita Yemenia cai no mar diante do litoral de Comores pouco depois de pousar em Moroni, deixando 152 mortos. A única sobrevivente é uma adolescente de 14 anos.

2010
12 de maio: 103 mortos quando um Airbus A330 da companhia líbia Al Afriqiyah cai no aeroporto de Trípoli. O único sobrevivente é um menino de oito anos.

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