Agência France-Presse
postado em 30/07/2010 09:37
Colômbia e Venezuela voltaram a se chocar pelas denúncias colombianas de que guerrilheiros se refugiam em território venezuelano, durante a reunião de chanceleres da Unasul realizada na noite de quinta-feira (30/7), em Quito, e que deixou na mão dos presidentes do grupo a busca de uma saída para a ruptura das relações entre os dois países.Depois de uma reunião de quatro horas a portas fechadas, o chanceler da Colômbia, Jaime Bermúdez, assegurou que a Venezuela não permitiu a obtenção de um consenso sobre um mecanismo de cooperação que impeça a presença dos rebeldes em outros países.
"Lamento que não se tenha chegada a um consenso definitivo", afirmou Bermúdez. "Durante a sessão, todos os chanceleres chegaram a um texto preliminar que incluía distintos aspectos, como definir mecanismos eficazes na cooperação para impedir que grupos criminosos e terroristas, neste caso as Farc e o ELN, estejam em qualquer país da região", acrescentou.
"No entanto, quando se havia conseguido esse texto preliminar, na última hora a Venezuela decidiu que não aceitava o documento e pediu que virasse um texto não oficial".
Por sua parte, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que seu país chegou os dados entregues pela Colômbia para embasar suas denúncias e que divulgará em breve um relatório.
"Os dados que eles deram foram checados por nosso governo e, em seu momento devido, mostraremos os resultados", indicou Maduro, que, no entanto, caracterizou essa informação de "show" por parte da Colômbia.
"Qualquer grupo que seja detectado, será combatido", acrescentou.
Ao final da reunião, o Equador, que ocupa a presidência rotativa da Unasul, defendeu a convocação de uma cúpula presidencial do bloco para tratar da ruptura diplomática entre Colômbia e Venezuela.
"Convidamos os chefes de Estado para que, de forma direta, abordem os temas que analisamos nesta reunião", disse o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, após quatro horas de discussões entre os representantes dos doze países da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
Esta cúpula "será de muita utilidade" para Colômbia e Venezuela "em seu caminho visando uma solução à crise diplomática".
[SAIBAMAIS]Patiño, que se reuniu, separadamente, com o chanceler colombiano e seu colega venezuelano no Palácio de Najas, sede do ministério equatoriano das Relações Exteriores, destacou que a decisão de convocar a Cúpula caberá ao presidente equatoriano, Rafael Correa, e ao secretário da União das Nações Sul-Americanas, Néstor Kirchner. "Esperamos que ocorra nas próximas semanas", assinalou o chanceler. "Oxalá seja um segundo passo adiante na aproximação dos governos de dois povos irmãos".
Em 22 de julho passado, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rompeu relações com a Colômbia após Bogotá denunciar na Organização dos Estados Americanos (OEA) a presença de 1.500 guerrilheiros colombianos no território venezuelano.
Ao romper os vínculos, Chávez pôs em alerta suas Forças Armada ante "uma possível agressão militar da Colômbia com apoio dos Estados Unidos".
Em função dessa situação, o presidente Alvaro Uribe condenou na quinta-feira as declarações de seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Uribe "deplorou" o fato de Lula "referir-se à nossa situação com a República Bolivariana da Venezuela como se fosse um caso de assunto pessoal, ignorando a ameaça que a presença dos terroristas das Farc nesse país representa para a Colômbia e para o continente", diz o texto oficial divulgado.
O texto da presidência colombiana refere-se a declarações feitas na quarta-feira por Lula, nas quais o governante brasileiro disse pretender reunir-se com o presidente venezuelano, com Uribe, e com o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, em favor de uma conciliação após a ruptura das relações entre os dois países há uma semana.
"Pretendo conversar muito com Chávez, muito com Santos, porque creio que o tempo é de paz e não de guerra", disse Lula.
A Unasul é integrada por Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Argentina, Bolívia, Chile, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai.