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Oferta brasileira de asilo à iraniana ameaçada de morte divide opiniões no Irã

postado em 02/08/2010 17:38
A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita no fim de semana, de conceder asilo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério, é apoiada por ativistas que defendem os direitos humanos no Irã. Mas a iniciativa é criticada por setores mais conservadores ligados ao governo do país. As informações são da agência BBC Brasil.

Integrantes de organizações de direitos humanos disseram que a oferta de Lula a Ashtiani é um passo positivo, mas que ainda é preciso fazer mais para pressionar o Irã a banir esse tipo de sentença.

O governo iraniano ainda não se manifestou oficialmente se aceita a proposta, embora um site ligado à Guarda Revolucionária do Irã tenha criticado a posição do presidente brasileiro, acusando-o de interferir nas questões internas do país.

Desde maio de 2006, Ashtiani, de 43 anos, está presa no Irã quando um tribunal na Província do Azerbaijão Ocidental a considerou culpada por manter ;relações ilícitas; com dois homens após a morte do marido.

As autoridades iranianas afirmaram, no começo do mês passado, que Ashtiani não seria morta por apedrejamento, embora ainda possa ser sentenciada à morte por enforcamento pelo adultério e por outras acusações que pesam contra ela.

No sábado, Lula apelou ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pedindo que ela se asile no Brasil. ;A oferta do presidente do Brasil a Ashtiani e a família foi um passo muito positivo e é bem-vindo. No entanto, espero que isso crie uma pressão pelo fim de sentenças de morte por apedrejamento", disse a iraniana Mina Ahadi, coordenadora do Comitê Internacional contra Apedrejamento, entidade que vem fazendo uma campanha pela liberdade de Ashtiani.

Em seguida, Ahadi afirmou que "conversou com o filho dela e outros familiares sobre a oferta do Brasil. Eles ficaram muito contentes e esperançosos. Esperamos que a notícia seja dada a Ashtiani ainda nesta segunda-feira".

Para o ativista Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da entidade Direitos Humanos no Irã, a interferência de Lula em favor da iraniana foi uma grande notícia, pois o presidente brasileiro "tem o carisma ante o governo do Irã. Certamente, o governo iraniano irá considerar essa proposta de forma séria, pois se trata de um país amigo e que goza de boa credibilidade com o Irã", disse Moghaddam.

Para ele, a oferta de asilo a Ashtiani não mudará o destino de muitos outros sentenciados a esse tipo de execução. "Já tivemos muitas pessoas enforcadas ou apedrejadas até a morte por omissão de líderes internacionais, incluindo Lula, que poderiam ter feito mais pressão junto ao governo iraniano".

O site Jahan News, ligado à Guarda Revolucionária do Irã, que dá suporte ao regime islâmico do país, acusou Lula devido à oferta de asilo. "O presidente brasileiro está sob a influência da propaganda ocidental... e interferiu nos assuntos internos do Irã", diz um texto no site.

De acordo com Mohammad Marandi, professor de ciência política da Universidade de Teerã, mesmo o bom relacionamento entre o Brasil e o Irã não vai garantir que a proposta brasileira seja aceita, especialmente entre membros da linha-dura do governo iraniano. "Há um consenso dentro do governo de que mesmo nações amigas não podem interferir em assuntos vistos como delicados dentro do Irã. Com o Brasil não será diferente", disse Marandi.

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