postado em 04/08/2010 07:03
Um confuso incidente na tensa fronteira entre Líbano e Israel resultou ontem em um confronto armado que matou um coronel israelense e quatro libaneses ; três militares e um jornalista ; e alimentou temores de uma repetição da guerra travada há quatro anos entre o Estado judaico e o movimento xiita libanês Hezbollah (pró-iraniano). Os militares libaneses alegam que começaram a atirar depois que uma patrulha israelense cruzou a fronteira (não demarcada) para derrubar árvores que prejudicariam sua visão do lado libanês. Segundo um porta-voz de Beirute, foram feitos disparos de advertência e Israel teria respondido imediatamente com fogo de artilharia e helicópteros. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, responsabilizou ;diretamente; o governo libanês pela ;violenta provocação; e ordenou ;uma resposta imediata;.;Israel reagiu de maneira imediata e voltará a fazê-lo no futuro contra qualquer tentativa de violação da calma na fronteira;, ameaçou Netanyahu. Fontes militares israelenses negaram que tenha havido confronto com o Hezbollah, que mantém uma milícia no sul do Líbano e acusa Israel de manter áreas libanesas sob ocupação. No entanto, o líder máximo do movimento xiita, o xeque Hassan Nasrallah, advertiu que seus seguidores ;não assistirão de braços cruzados; a novos ataques ao Exército. Em discurso no qual comemorou o quarto aniversário da guerra de 2006, transmitido por telões para milhares de fiéis reunidos em Beirute, Nasrallah colocou seus milicianos ;à disposição;, mas esclareceu que só intervirão se convocados pelo presidente Michel Sleiman.
Os dois governos acusaram-se reciprocamente de violar os termos da Resolução n; 1.701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, adotada ao fim do conflito de 2006 para evitar novos confrontos armados. O Líbano, assim como o Brasil, ocupa atualmente uma das 10 cadeiras não permanentes do conselho, que se reuniu ontem para examinar os incidentes. ;O subsecretário-geral da ONU para Operações de Paz, Alain Le Roy, reuniu-se com os membros do conselho para informar sobre o enfrentamento;, explicou o porta-voz do organismo, Martin Nesirky.
No pano de fundo da escalada de tensão está a expectativa pelo pronunciamento do tribunal especial da ONU que investiga outro episódio crucial (1) na história recente do Líbano ; o assassinato, em 2005, do ex-premiê Rafik Hariri, um muçulmano sunita, alinhado ao Ocidente e adversário dos xiitas, que se aliam ao Irã e à Síria. Desde o atentado, cometido com carro-bomba, o bloco sunita-cristão aponta como responsáveis agentes sírios e seus sócios libaneses, e segundo rumores o tribunal acusaria o Hezbollah. Em seu pronunciamento, o xeque Nasrallah não apenas rechaçou a versão como prometeu que apresentará nos próximos dias ;elementos concretos; para incriminar ;o inimigo sionista; (Israel) pelo assassinato ;do mártir Hariri;. Embora tenha perdido a última eleição, o Hezbollah integra o governo de coalizão liderado pelo premiê Said Hariri, filho do ex-premiê.
1 - Tensão no pós-guerra
A explosão que matou Rafik Hariri colocou em confronto os dois grandes blocos político-religiosos que convivem em tensa rivalidade desde o fim da guerra civil, em 1990. No duelo de manifestações de rua, prevaleceu a coalizão pró-ocidental, que obteve a retirada completa das tropas sírias, presentes desde o início da guerra, em 1975. Desde a morte de Hariri, o bloco agora liderado por seu filho Said lidera o gabinete, mas teve de aliar-se aos xiitas para governar de fato.