Mundo

Naomi confirma presente de Taylor

Top britânica depõe em tribunal da ONU e incrimina ex-presidente da Libéria

postado em 06/08/2010 09:50
Um pacote com duas ou três ;pedras muito pequenas, de aspecto sujo;: o presente recebido pela top model britânica Naomi Campbell em 1997, supostamente enviado pelo ex-presidente da Libéria Charles Taylor, tornou-se parte determinante de um caso judicial. Naomi falou ontem no tribunal especial das Nações Unidas para Serra Leoa, em Haia, sobre o presente em questão ; diamantes brutos ; como testemunha do envolvimento de Taylor, hoje com 62 anos, em crimes de guerra e contra a humanidade cometidos na guerra civil(1) da vizinha Serra Leoa (1991-2001), que deixou 120 mil mortos. O ex-presidente é acusado de ter financiado os insurgentes da Frente Revolucionária Unida (RUF, sigla em inglês) com armas e munição, em troca das pedras preciosas que ficaram conhecidas como ;diamantes de sangue;.

No depoimento, a top model falou sobre os diamantes que Taylor teria enviado para seu quarto de hotel após um jantar organizado pelo então presidente sul-africano, Nelson Mandela, na Cidade do Cabo. ;Eu estava dormindo e bateram à porta. Abri e dois homens me deram uma bolsinha, dizendo: ;Um presente para você;;, descreveu. Ela disse ter recebido o presente, agradecido e fechado a porta. Em seguida, deixou a bolsa ao lado da cama e voltou a dormir. Naomi garante que só abriu o pacote na manhã seguinte. ;Dentro vi umas pedras ; talvez duas ou três, não consigo me lembrar, após 13 anos ;, muito pequenas, com aspecto sujo. Pareciam cristais sujos;, ressaltou, acrescentando que ;não havia nenhuma explicação, nenhuma nota; com o embrulho. A modelo disse aos juízes que não identificou de imediato as pedras. ;Estou acostumada a ver diamantes brilhantes e em caixas;, explicou.

Depois de ver o presente, Naomi teria ido tomar café da manhã com a agente Carole White e a atriz Mia Farrow, com quem conversou sobre a visita noturna. ;Uma delas, acho que foi Mia, disse: ;Bem, é claro que é de Charles Taylor. Não havia às mesa mais ninguém que daria tal presente;. Então, a suposição foi feita.; Alegando receber presentes ;o tempo todo;, a top model, hoje com 40 anos, negou ter entrado em contato com o ex-presidente para agradecer. O testemunho de Naomi Campbell demonstraria, segundo os promotores, que Taylor mentiu ao afirmar que nunca possuiu diamantes brutos. O réu afirma que a versão da top model é ;totalmente incorreta;.

Doação em dúvida
A modelo afirma que entregou as pedras para o amigo Jeremy Ratcliffe, na época diretor do Fundo Nelson Mandela para a Infância. ;Eu disse: ;Fique com elas, faça algo com elas, deixe as crianças melhor. Não quero ficar com os diamantes;;, recordou. No entanto, a promotoria exibiu documentos da instituição filantrópica atestando que o fundo não havia recebido essa doação. Em resposta, Naomi disse que conversou com Ratcliffe em 2009, quando a ONU consultou o advogado da modelo e descobriu que o amigo ainda estava com os diamantes.

Taylor, presidente da Libéria de 1997 a 2003, é acusado de 11 crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante a ;guerra dos diamantes;, que envolveu seu país e a nação vizinha. Ele alega inocência das acusações de assassinato, estupro, recrutamento de menores, escravidão e saques. Após negar diversas vezes ter recebido o presente de Taylor, Naomi confirmou a história e alegou ter se recusado a falar sobre o assunto por temer pela segurança da própria família. ;Ele é uma pessoa que, segundo eu li na internet, supostamente matou milhares de pessoas. Não quero minha família em risco de maneira alguma;, admitiu.

1 - Conflito letal
A guerra civil de Serra Leoa começou em março de 1991, com um atentado dos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (RUF, sigla em inglês) contra o vilarejo de Kailahun, numa região de lavra de diamantes. O grupo pretendia controlar o país, e em 1995 dominava as províncias do leste e os arredores da capital, Freetown. A RUF é acusada de mutilar centenas de civis, em uma guerra que matou cerca de 120 mil pessoas. O grupo insurgente extraía diamantes das zonas sob seu controle para vender no exterior, violando embargo das Nações Unidas. O dinheiro era usado para comprar armas e munição, além de enriquecer os líderes.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação