Agência France-Presse
postado em 06/08/2010 11:57
A onda de calor e a fumaça que tornaram o ar irrespirável em Moscou causaram um aumento de quase 50% das mortes na capital russa em julho, na maioria de idosos, uma realidade que as autoridades têm se recusado a admitir.Segundo o Serviço Central de Defesa Civil da capital russa, consultado pela AFP nesta sexta-feira, em julho foram registrados quase 5.000 mortes a mais que no ano anterior. "Registramos 14.340 mortes em Moscou em julho, 4.824 mortes a mais que em julho de 2009", afirmou uma funcionária do Serviço de Estatística da Defesa Civil, Evguenia Smirnova.
"O aumento do número de mortes começou em julho, em junho, pelo contrário, as cifras tinham sido bastante aceitáveis", afirmou esta funcionária, estimando que a onda de calor foi "muito provavelmente" a causa dessas mortes.
As cifras do mês de agosto não deverão ser melhores, completou, enquanto os serviços meteorológicos não prevêem um retrocesso no curto prazo desta onda de calor sem precedentes na Rússia.
[SAIBAMAIS]Os serviços da Defesa Civil não possuem estatísticas sobre as causas das mortes, mas a análise das idades confirmou que as pessoas idosas eram as mais afetadas pela onda de calor em uma megalópole onde as temperaturas asfixiantes desde o mês de julho bateram recordes, alcançando 40 graus Celsius. "Chega a 30 graus no meu apartamento, mas há alguns dias chegou a 35, e é muito esgotante", disse uma moscovita de 79 anos, Svetlana Mikha;lovna, durante entrevista por telefone à AFP.
Tenho sempre em mãos meus medicamentos para o coração", completou a idosa, que não possui em seu apartamento da periferia de Moscou ar condicionado ou ventilador, como grande parte dos idosos na Rússia, que vivem na maioria abaixo da linha da pobreza.
Segundo a Defesa Civil, 8.826 moscovitas de mais de 71 anos morreram em julho, contra 5.293 da mesma idade no mês de junho. Em outras faixas etárias, as cifras não aumentaram muito.
Há uma semana, as autoridades russas, pressionadas para responder à situação, negaram essas evidências.
As afirmações sobre uma alta significativa da mortalidade devido à onda de calor "não têm nenhum fundamento objetivo", declarou na sexta-feira o chefe dos serviços sanitários russos Guennadi Onichtchenko.
A porta-voz dos serviços sanitários em Moscou admitiu um aumento da mortalidade e sua vinculação com a onda de calor, mas também explicou claramente que as autoridades preferiam silenciar as cifras.
"As estatísticas do mês de julho sobre a natalidade e a mortalidade não estarão prontas antes do fim de agosto, e é muito cedo para tirar conclusões", afirmou um porta-voz do Ministério da Saúde.