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O dilúvio...

As piores inundações da história do Paquistão deixam 1,6 mil mortos e afetam 12 milhões. Na Rússia, incêndios matam 80 e cobrem Moscou de fumaça

postado em 07/08/2010 07:00
A chuva recomeçou forte, por volta das 9h de ontem (1h em Brasília). A jornalista paquistanesa Sadaf Fayyaz, 30 anos, sentiu-se mal ao pensar no que ocorria em vilarejos próximos a Rawalpindi, na província de Punjab. ;Muitas pessoas estão morrendo. É trágico, trágico;, desabafa. A entrevista ao Correio é interrompida várias vezes, devido à queda na conexão da internet. A pior catástrofe dos últimos 80 anos no Paquistão já deixou 1,6 mil mortos e 4,5 milhões de desabrigados, em apenas oito dias.

As inundações, no entanto, afetaram a vida de 12 milhões, cerca de 6,7% da população de todo o país. ;Aqui em minha cidade, os moradores de áreas mais baixas foram alertados a se preparar para as enchentes, por causa da presença de nuvens grossas;, afirma. ;O serviço meteorológico prevê uma atividade intensificada de chuvas de monção durante as duas primeiras semanas de agosto;, acrescenta Sadaf. Pode ser tempo demais para um país que já enfrenta as piores inundações de sua história.

Por telefone, de Islamabad, Peter Kessler ; porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) ; relatou que mais de 100 mil casas foram completamente destruídas e 350 mil ficaram bastante danificadas. ;As populações afetadas são principalmente de regiões muito pobres. Algumas pessoas falam em 1 milhão de desabrigados, o que já seria uma cifra imensa, outras citam até 14 milhões;, comenta. Segundo ele, as chuvas de monção estão afetando o Paquistão como um todo. ;Hoje, começou a chover forte bem cedo. A intensidade diminuiu, mas isso nada quer dizer, pois a água escoa pelas canaletas e faz transbordar os rios;, acrescenta. O porta-voz do Acnur admite que a catástrofe supera em magnitude o terremoto de 2005, que afetou 3,2 milhões de pessoas. O organismo da ONU apelou à comunidade internacional pela doação de US$ 21 milhões. O Brasil, por meio do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA), anunciou ontem o repasse de US$ 500 mil.

A Comissão Federal de Enchentes do Paquistão estima que as inundações tenham arrasado grande parte das lavouras de grãos do país ; o equivalente a 558 mil campos de futebol. Pelo menos 10 mil cabeças de gado se afogaram nos últimos oito dias. Segundo a agência de notícias France-Presse, o serviço meteorológico paquistanês lançou ontem um alerta vermelho, o mais alto na escala, ante a ameaça ;iminente; e ;extrema; de enchentes na província do Sind (sul), às margens do Rio Indo.

Enquanto a ajuda demora a chegar, os paquistaneses fazem o que podem para amenizar o sofrimento do próximo. Por e-mail, Syed Ali Abbas Zaidi, fundador e presidente da Aliança da Juventude do Paquistão, afirmou que sua equipe já despachou donativos para áreas inundadas em Mardan, Nowshera, Charsadda e Swabi. A situação nos dois primeiros distritos é agravada pelas sequelas da guerra ao terror. O ativista conta que a região abriga famílias abastadas, que hospedaram desabrigados procedentes do Vale do Swat, tomado pela milícia fundamentalista Talibã, no ano passado. ;Elas não estão facilitando o fornecimento de logística, a fim de transferir bens e crianças para locais mais seguros.;

Zaidi afirma que, na província de Khyber PakhtunKhwa (noroeste), 4,2 milhões de moradores foram afetados pelas chuvas. ;Eu tenho me reunido com eles nos últimos dias. Estão muito frustrados e denunciam que o socorro não chega de modo organizado. E se mostram furiosos com o governo e com as autoridades, que praticamente ignoram as necessidades de alguns locais;, diz. Uma declaração do presidente Asif Ali Zardari, em viagem ao Reino Unido, deve aguçar ainda mais a revolta dos paquistaneses. ;Enfrentar inundações é responsabilidade do primeiro-ministro;, declarou. O premiê, Yousaf Raza Gilani, esteve em PakhtunKhwa para avaliar a resposta ao desastre.

... e o inferno
;É uma calamidade. A situação aqui está muito horrível. A impressão é que você está literalmente dentro de uma fogueira.; O representante comercial João Santos Lima, um curitibano de 30 anos, descreve desse modo a vida em Moscou. Ele adotou a capital da Rússia como lar uma década atrás e garante nunca ter enfrentado uma onda de calor tão avassaladora. ;Em 2004, estava muito quente, mas não tanto. A família de minha mulher, que é russa, contou que a última vez que ocorreu algo parecido foi em 1972;, afirma ao Correio, por telefone.

Apenas na Rússia central e na região do Rio Volga, os incêndios destruíram 1,9 mil casas e deixaram mais de 3 mil desabrigados. De acordo com o Ministério de Emergências, 52 pessoas já morreram, por causa de queimaduras e de intoxicação provocada pela fumaça de 500 focos de queimadas. Como medida de precaução, todos os materiais nucleares foram removidos da usina atômica de Sarov, 400km a leste de Moscou. Até a última quarta-feira, o fogo havia devastado uma área equivalente a 188 mil campos de futebol. A temperatura na capital chegou a 38 graus centígrados, e o nível de poluição ultrapassou em 10 vezes os níveis considerados seguros.

Enquanto conversava com a reportagem, por telefone, às 16h42 (23h42 em Moscou), João Santos relatava que os termômetros marcavam 33 graus. ;Durante todo o dia, não consegui ver o prédio a 200m da minha janela. O ar está muito seco e a cidade inteira está andando com máscaras;, conta. ;Moscou tem poucos locais com ar-condicionado, porque um calor desses é considerado raríssimo.; Os moradores da capital não têm escolha a não ser abrir as janelas, ainda que a fumaça invada as residências e os locais de trabalho. ;É realmente muito ruim. Nas ruas, a sensação é de que estamos numa nevasca e os carros só circulam com os faróis acesos. No metrô, a situação é bem pior, porque a fumaça se concentra no subterrâneo;, comenta João. Nas 182 estações, por onde perambulam 7 milhões de pessoas por dia, não se consegue respirar nem enxergar direito.

Segundo o paranaense, o governo da Rússia recebeu o reforço de militares do Cazaquistão, da Armênia e da Bielorússia para tentar controlar o fogo. De acordo com a agência France-Presse, a onda de calor e a fumaça provocaram um aumento de quase 50% das mortes na capital apenas em julho, na maioria de idosos. As autoridades contestam essa informação. ;Registramos 14.340 mortes em Moscou em julho, 4.824 mortes a mais que em julho de 2009;, disse à AFP Evguenia Smirnova, uma funcionária do Serviço de Estatística da Defesa Civil.


Disposto a ajudar
As piores inundações da história do Paquistão deixam 1,6 mil mortos e afetam 12 milhões. Na Rússia, incêndios matam 80 e cobrem Moscou de fumaça;Esse é o pior desastre da história do Paquistão. Mais chuvas são aguardadas ao longo do fim de semana, o que poderia dificultar os trabalhos de ajuda humanitária. De qualquer forma, eu vou liderar uma equipe na viagem até a cidade de Risapur, no distrito de Nowshera. Levaremos caminhões com donativos para os moradores da região;
Syed Ali Abbas Zaidi, fundador e presidente da Aliança da Juventude do Paquistão






Brasileiro cético
As piores inundações da história do Paquistão deixam 1,6 mil mortos e afetam 12 milhões. Na Rússia, incêndios matam 80 e cobrem Moscou de fumaça;As autoridades russas informaram que vêm tentando apagar os focos de incêndio, na medida do possível, mas não estão tendo resultado algum. A região de Moscou é cercada por várias florestas. Com a seca, todas estão pegando fogo. Por mais que o governo tente conter os focos, acho difícil, porque a área é muito grande. Quase do tamanho do estado de Sergipe;
João Santos Lima, 30 anos, paranaense que mora em Moscou há 10 anos


O paranaense João Santos Lima, 30 anos, mora em Moscou há 10 anos e relata como a capital russa enfrenta a onda de calor

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