Agência France-Presse
postado em 09/08/2010 14:27
A comunidade internacional condenou com firmeza os assassinatos, na sexta-feira, no norte do Afeganistão, de oito voluntários ocidentais, médicos e enfermeiros, e dois afegãos, cujos corpos começaram a ser entregues aos familiares, na segunda-feira, em Cabul.Os oito ocidentais - seis americanos, uma britânica e uma alemã -, assim como dois afegãos, morreram atingidos por disparos na semana passada na província de Badajshan, nordeste do Afeganistão. Só o motorista, afegão, sobreviveu.
Na manhã de segunda-feira, os familiares de Jawd, um dos dois afegãos assassinados, recuperaram o cadáver do cozinheiro de 27 anos no necrotério do hospital militar de Cabul.
"Não sei quem os matou", disse Abdul Batan, um de seus irmãos.
"Meu irmão não deveria ter trabalhado esse dia. Saiu com a equipe médica porque era gente boa", acrescentou, com os olhos avermelhados pelo choro.
Mais de três dias depois de achados os cadáveres, continua a investigação para averiguar quem os matou.
Os talibãs e o Hezb-e-Islami, segundo grupo insurgente mais importante, reivindicaram os assassinados, afirmando que os ocidentais eram "missionários cristãos" e "espiões da Otan".
A polícia apontou, a princípio, para a pista de "roubo".
No entanto, o chefe do departamento de investigações criminais do ministério do Interior, o general Mirza Mohamad Yarmand, disse à AFP que os responsáveis foram "terroristas" do Nuristão, província vizinha ao local onde morreram.
"Segundo o sobrevivente, os terroristas atiraram de longe e, em seguida, se aproximaram", disse o general Yarmand, acrescentando que o motorista, Faisullah, escapou da morte porque começou a recitar versículos do Corão.
[SAIBAMAIS]O sobrevivente, citado no sábado pelo chefe da polícia local, assegurou que os médicos haviam sido executados.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, qualificou o assassinato de "ato desprezível de violência gratuita" e condenou "a tentativa grosseira dos talibãs de justificar o injustificável, fazendo falsas acusações sobre suas atividades no Afeganistão".
A ONU condenou o que chamou de "assassinatos a sangue frio".
"Os trabalhadores humanitários devem ter acesso às pessoas que atendem e devem poder fazê-lo sem medo", disse Staffan de Mistura, representante especial das Nações Unidas em Cabul.
Em Londres, o ministro britânico de Relações Exteriores, William Hague, qualificou o assassinato da médica britânica Karen Woo, de 36 anos, de "ato deplorável e covarde, que vai contra os interesses dos afegãos dependentes dos serviços aos quais ela contribuía corajosamente".
Os oito médicos, que trabalhavam como voluntários para a ONG cristã International Assistance Mission (IAM) - que reúne médicos, oftalmologistas, dentistas e enfermeiros - eram chefiados por Tom Little, um americano que vivia desde os anos 1970 em Cabul.
Eles voltavam de passar duas semanas trabalhando no Nuristão, uma província sob forte influência dos talibãs.
Vários deles poderiam ser enterrados "a pedido das famílias" no cemitério britânico, situado no centro de Cabul.