postado em 09/08/2010 16:16
A taxa de mortalidade diária em Moscou dobrou e os necrotérios estão lotados por conta da névoa causada pela pior onda de calor na Rússia em mil anos de história, disseram fontes oficiais nesta segunda-feira (9/8).A fumaça causada pelos incêndios florestais nos campos, a cerca de 100 km da cidade, atinge Moscou há vários dias, entrando nos apartamentos, escritórios e até mesmo no metrô, fazendo diversas pessoas deixarem a cidade. "Normalmente, em torno de 360 a 380 pessoas morrem todos os dias. Agora, essa média está em 700", disse o chefe do departamento de saúde de Moscou, Andrei Seltsovsky, às emissoras locais, completando que os necrotérios da cidade estão quase atingindo sua capacidade total.
[SAIBAMAIS]Enquanto isso, serviços de emergência reportaram em torno de 557 incêndios florestais em 174 mil hectares na Rússia central e na região de Moscou. As chamas estão inclusive se aproximando de uma usina nuclear nos Montes Urais.
O primeiro-ministro, Vladimir Putin, anunciou que o recorde de seca irá afetar a colheita de grãos no maior produtor mundial de trigo, que se reduzirá em cerca de 10 milhões de toneladas. Segundo as emissoras locais, a fumaça atingiu a segunda maior cidade russa, São Petesburgo, e a principal cidade da região dos Montes Urais, Yekaterinburg.
O chefe da meteorologia russa, Alexander Frolov, disse que a onda de calor foi a mais grave em um milênio de história. "Nenhuma onda de calor semelhante foi registrada por nós ou por nossos ancestrais", disse em coletiva de imprensa. "Este é um fenômeno completamente único."
Mais de 104 mil pessoas - um número recorde para o ano - deixaram Moscou no domingo de avião, segundo o porta-voz da agência de aviação civil russa, Rosaviatsia, Sergei Izvolsky, à AFP. A cifra para o mesmo dia um ano atrás era de em torno de 70 mil pessoas, disse.
Muitos dos que ficaram na cidade colocaram máscaras para se proteger da névoa, enquanto a mídia local acusa as autoridades de não divulgar o real nível do desastre ambiental e das mortes causadas pela onda de calor.
O serviço de monitoramento da poluição atmosférica Mosekomonitoring informou nesta segunda-feira (9) que o nível de monóxido de carbono no ar de Moscou estava 2,2 vezes maior que os níveis aceitáveis. Essa taxa ficou 3,1 vezes pior no domingo e 6,6 vezes pior no sábado. Muitos moscovitas culpam o governo pela catástrofe, dizendo que este não está fazendo o suficiente para proteger as pessoas da névoa. Usuários de blogs dividem dicas de sobrevivência que incluem produzir oxigênio em casa e dormir na varanda. "Não sei quanto tempo vamos durar", disse a aposentada Rimma Zgal à AFP. "É impossível dormir à noite."
As autoridades russas declararam estado de emergência na cidade próxima aos Montes Urais Ozersk, local da usina nuclear de Mayak, devido aos incêndios. Eles também têm trabalhado para apagar o fogo perto de Snezhinsk, outra cidade nos Montes Urais e sede de um dos principais centros russos de pesquisa nuclear. Fontes oficiais afirmam que o fogo foi controlado nessa região.
Putin anunciou que a colheita de grãos da Rússia para 2010 seria de 60-65 milhões de toneladas, de acordo com as agências de notícias. Mas na semana passada a previsão era de 70-75 milhões de toneladas.
A Rússia viu 10 milhões de hectares de terra serem destruídos por conta da seca e as novas cifras representam uma forte queda na comparação com a colheita de 2009, que chegou a 97 milhões de toneladas. A forte seca fez com que fosse declarado estado de emergência em 27 regiões e representou um golpe nas ambições da Rússia de ampliar sua fatia no mercado global nos próximos anos.
Putin chocou o mercado internacional na semana passada ao anunciar que a partir de 15 de agosto a Rússia irá interromper as exportações de grãos para manter os preços em baixa no mercado local e garantir fornecimento de alimento para o gado.