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Incêndios na Rússia põem Putin e Medvedev à prova

Agência France-Presse
postado em 11/08/2010 14:58
Vladimir Putin apareceu no comando de um airtanker, ou bombardeiro de água; Dmitri Medvedev demitiu oficiais de alta patente, mas os incêndios florestais que atingem a Rússia deixam mal os dirigentes em relação à confiança dos russos.

"Atingimos o foco?", perguntou o primeiro-ministro Vladimir Putin ao piloto do avião anfíbio ao lado de quem ele se apresentou na noite de ontem (10/8) em todas as telas de televisão da Rússia, após ter largado toneladas de água no solo.

A resposta da imprensa moscovita a uma questão sobre o homem forte do país não era necessariamente positiva: os focos de incêndio visados foram, talvez, apagados, mas quem sofre mais com a nova tragédia é o sistema de poder criado há dez anos pelo ex-agente da KGB.

Os dirigentes do país "combatem o fogo que eles mesmos permitiram alastrar em proporções catastróficas", destacava na manhã de hoje o jornal popular Moskovski Komsomolets.

O chefe de governo não deveria estar num avião; "ele é pago para organizar o trabalho dos ministérios e dos serviços de Estado", comentava igualmente o jornal Vedomosti.

Nos blogs e debates, as críticas são numerosas contra o poder e as pesquisas mostram que a popularidade de Putin e do presidente Medvedev caiu a níveis inéditos desde a crise financeira de 2008, mesmo que ainda seja muito cedo para medir o impacto dos incêndios no centro do poder na Rússia.

Segundo o instituto FOM, a cota de confiança do presidente Medvedev caiu em julho a 52%, contra 62% no começo do ano. A de Vladimir Putin também afundou para 69% e 61% no mesmo período.

Medvedev, amplamente oculto pelo primeiro-ministro nessa crise, anunciou, em declarações divulgadas para todo o país na televisão pública, demissões em série, principalmente de autoridades militares depois que o fogo chegou a base na região de Moscou.

Ele celebrou na Abkházia os dois anos de intervenção militar russa na Geórgia - um episódio destinado a despertar o orgulho nacional -, visitando aldeias e anunciando reformas.

Ao mesmo tempo, no entanto, os russos constataram a ineficácia dos serviços de socorro e a ausência total de prevenção da catástrofe que deixou o país em chamas.

Imagens não mostradas na televisão, mas divulgadas na internet mostraram Putin, durante visita a uma aldeia destruída, agredido com palavras por moradores que acusavam o Estado de abandoná-los à própria sorte.

Embora tenham se passado dez anos desde o naufrágio em 2000 do submarino nuclear Koursk, o site gazeta.ru dizia nesta quarta-feira que os incêndios deste verão poderão ser, para a popularidade do regime, uma catástrofe a mais.

"Há dez anos os críticos de Putin diziam que a carreira havia naufragado com o Koursk e agora, com a tragédia deste verão", afirma o site ligado à oposição.

Ouvido pela AFP, o sociólogo Lev Goudkov, do Instituto independente Levada, suavizou os prognósticos. "Os dois principais personagens do Estado fazem campanha intensa na mídia: Putin aparece de avião apagando o fogo, Medvedev demite, mas os dois distribuem dinheiro e isso agrada às massas", considera.

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