postado em 12/08/2010 07:00
O fantasma de Chernobyl volta a assombrar a Europa, passados 24 anos do mais sério acidente da história da indústria nuclear. Os incêndios florestais provocados pela forte onda de calor na Rússia atingiram uma das áreas mais perigosas do planeta e podem espalhar poeira radioativa pelos países da Europa Oriental. As autoridades russas confirmaram ontem que o fogo chegou a Bryansk, na fronteira com a Ucrânia, que integrava a hoje extinta União Soviética quando ocorreu o vazamento nuclear na usina de Chernobyl, em 1986.;A dispersão de elementos radioativos pode atingir centenas de quilômetros. Se há incêndios na região de Bryansk, esses elementos poderão chegar à região de Nijni-Novgorod, a Moscou e, em determinadas condições, ao leste da Europa;, declarou Alexei Iablokov, ecologista e membro correspondente da Academia de Ciências russa, à agência de notícias Interfax.
Desde a última sexta-feira, oficiais russos contabilizaram 28 focos de fogo nas proximidades de Bryansk, num total de 269 hectares de área queimada. Em todo o país, já são mais de 600 incêndios florestais. ;Há mapas em que é possível ver a contaminação radioativa e outros mapas em que é possível ver os incêndios. Quando colocamos um mapa sobre o outro, fica claro que as áreas contaminadas estão em chamas;, informou a Agência Florestal Federal da Rússia.
O grupo ambientalista Greenpeace já tinha alertado que os incêndios poderiam chegar às regiões mais afetadas pelo acidente de Chernobyl. Em um primeiro momento, o governo russo negou que o fogo estivesse consumindo zonas afetadas pela radioatividade. Ontem, porém, a agência florestal reconheceu que em julho ocorreram incêndios perto de áreas de poluição radioativa, principalmente no oeste do país. O escritório do Ministério de Emergências na região de Bryansk detectou vários focos e aumentou as patrulhas para prevenir novos incêndios. Segundo funcionários, 165 mil efetivos combatem o fogo, apoiados por 39 aviões-tanques.
Fumaça contaminada
;As partículas radioativas ficam por um longo período na floresta. Elas se instalam, principalmente, na madeira morta e seca, em galhos quebrados, na turfa ou nas folhas dos pinheiros acumulados no chão. Todo esse material é altamente inflamável;, explica Nikolai Schmatkov, da ONG ambientalista WWF. Nikolai também alerta que materiais radioativos, como o césio-137, podem ser liberados para a atmosfera com a fumaça. ;Quando a floresta começa a queimar, as nuvens e a poeira podem conter partículas radioativas, atingir as camadas superiores da atmosfera e percorrer longas distâncias. Fuligem e cinzas podem alcançar também povoados, e por isso representam grande perigo;, alerta Schmatkow.
O fogo atingiu outras regiões contaminadas, como a área próxima a Chelyabinsk, nos montes Urais (leste da Rússia), que também abriga diversas instalações nucleares. Na última terça-feira, o fogo consumia uma área de 174 mil hectares, mas ontem a área total de incêndios diminuiu pela metade, embora persistam centenas de focos. O fogo já matou 54 pessoas no país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou que o calor anormal e os incêndios florestais na Rússia são uma séria ameaça para a população. Em comunicado, a organização destacou que se observa uma taxa elevada de substâncias poluentes em análises à qualidade do ar.
Portugal em chamas
Bombeiro combate as chamas no parque nacional de Serra do Geres, no norte de Portugal, que tinha ontem duas outras áreas de proteção ambiental devastadas pelas chamas. Com o calor extremo e a baixa umidade que têm caracterizado neste ano o verão europeu, o país tinha 1.500 efetivos mobilizados para enfrentar ao menos 28 focos ;significativos; de incêndios florestais.