postado em 12/08/2010 10:17
Brasília ; O Irã manterá presa a mulher condenada à morte por apedrejamento. Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, descartou o envio da viúva Sakineh Ashtiani, de 43 anos, para o Brasil. O diplomata negou que tenha ocorrido formalmente a oferta do Brasil ao governo iraniano de asilo ou refúgio político para a mulher.Shaterzadeh disse que o assunto envolve apenas o Irã, pois a mulher condenada é iraniana, o que elimina a possibilidade de outro país ser incluído no processo. Para o embaixador, o caso ganhou repercussão internacional porque há uma manipulação por meio da internet e da imprensa estrangeira para constranger o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
;Nós não recebemos de forma oficial pedido ou oferta alguma [de asilo ou refúgio político] para esta senhora ser enviada para o Brasil. Não houve ofício por escrito, nota oral ou troca de notas, como é a orientação na diplomacia em casos assim;, afirmou o embaixador. ;Ocorreram crimes e serão julgados conforme o código do Irã, que segue preceitos morais e culturais do país;, disse ele. ;O processo envolve pessoas iranianas, por que deveria ter o envolvimento de outros países?;
Shaterzadeh reiterou, porém, que a interpretação do assunto por parte do Irã não significa desrespeito à oferta de Lula para que a mulher fosse enviada para o Brasil. ;Nós respeitamos muito o presidente Lula. Confiamos cem por cento na ideia de que ele não quis interferir em assuntos internos do Irã. Ele foi movido por sentimentos humanos e quando o nosso porta-voz disse isso, foi com muito respeito a ele. Mas o comentário foi mal interpretado pela imprensa brasileira;, afirmou o embaixador.
Há cinco anos, a viúva Ashtiani, mãe de dois filhos, foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério e ter mantido relações sexuais com dois homens. Ela e a família negam as acusações. O advogado dela, Mohammad Mostafaei, recebeu asilo na Noruega. Ele tenta levar a família, alegando que todos correm riscos no Irã.
[SAIBAMAIS]Shaterzadeh disse ainda à Agência Brasil que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada ;apenas; de assasinato do marido. O embaixador não confirmou que a pena de morte por apedrejamento tenha sido substituída por enforcamento. Segundo ele, o processo está em curso e ainda não foi encerrado, por essa razão há possibilidade de alterações.
;Posso enfatizar que não é uma questão de adultério, mas de assassinato;, afirmou o embaixador iraniano. ;Será que se este crime tivesse ocorrido em outras partes do mundo, todos estariam reagindo desta forma?;, perguntou. ;Infelizmente, hoje em dia há um ambiente virtual que está sendo aproveitado pela mídia. É um assunto interno do Irã que não necessita de interferências externas;, concluiu o diplomata.
Shaterzadeh confirmou que a sentença de morte da iranaina virou tema de várias reuniões de diplomatas no Brasil e no Irã. Pessoalmente, o embaixador disse ter conversado sobre o assunto com vários representantes do Brasil. Em Teerã, o embaixador do Brasil no Irã, Antonio Salgado, também esteve com autoridades do país asiático para informar sobre a posição brasileira.
Ontem (11), no Rio de Janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou que houve, sim, uma oferta do governo para o envio de Ashtiani para o Brasil. "Houve comentários feitos em nível diplomático que explicavam [a condenação]. Talvez eles estejam considerando isso como uma resposta oficial, dizendo que ela é acusada não só de adultério, mas de cumplicidade em homicídio", afirmou.
Amorim acrescentou que não ia discutir o caso. "O fato é que a situação dessa moça, inclusive em função da ameaça de apedrejamento e do suposto delito de que ela é acusada, é uma coisa que choca a sensibilidade do brasileiro como a do mundo todo". ;O presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] expressou o oferecimento de recebê-la no Brasil, se isso ajudar a evitar a execução;, disse ele. ;Nosso embaixador em Teerã foi instruído a comunicar o fato, o que, a nosso ver, é uma formalização deste oferecimento e do sentimento que é o do povo brasileiro;.