Agência France-Presse
postado em 13/08/2010 15:57
Dez anos depois do naufrágio do Kursk, um submarino nuclear que era o orgulho da Marinha russa, parentes e amigos dos 118 marinheiros mortos consideram que nada foi aprendido com a catástrofe e denunciam que a frota continua se degradando.Cento e cinquenta familiares dos marinheiros, que morreram afogados no mar de Barents por não poderem ser auxiliados após a explosão de um torpedo a bordo do submarino, em 12 de agosto do ano 2000, se reuniram ontem (12/8) em São Petersburgo para uma cerimônia religiosa na catedral de São Nicolau.
Algumas mulheres, com lenços negros sobre as cabeças e cravos vermelhos nas mãos, choravam ao se lembrar dos marinheiros que, segundo alguns, morreram porque o então presidente, Vladimir Putin, se negou a aceitar em seguida uma ajuda estrangeira que poderia tê-los salvo.
Uma década depois, a dor continua. E muitos atribuem o drama à decadêmica da frota russa, em particular, e da Rússia em geral.
Entre os militares presentes, alguns não hesitaram em expressar a ira e em denunciar uma situação que, segundo eles, só fez piorar.
Roman, oficial de uma unidade de submarinista e que estudou com cinco das vítimas do Kursk, critica sem rodeios a hierarquia e, por isso, prefere não dar o sobrenome. "As autoridades fizeram tudo na época e fazem tudo agora para ocultar as causas que provocaram as mortes do Kursk", acusa. "Na ocasião, era realmente um desrespeito".
Pior ainda, considera, não se fez nada desde então para melhorar as coisas. Na época, os oficiais abandonaram a frota e os baixos salários, e os jovens talentos desapareceram. "Eu sirvo em uma unidade de submarinistas. Há oito anos, éramos 28 oficiais. Hoje em dia, restam quatro", diz. Trata-se de "uma sabotagem", sustenta o oficial. "Até me dá a impressão de que se trata de um acordo voluntário que vem de cima para destruir o exército e a frota", irrita-se.
Em um cemitério do norte de São Petersburgo, onde estão enterradas 38 vítimas do Kursk e onde foi celebrada uma cerimônia, Serguei, outro oficial, concorda com Roman.
"Nada bom acontece hoje em dia", lamenta o marinheiro, baseado na região de Murmansk, onde ficava o porto de ancoragem do Kursk.
O almirante da reserva Mikhail Motzak, um dos encarregados pela operação de salvamento do submarino, reconhece que as forças armadas não tinham, então, os meios para socorrer a tripulação do Kursk. "Nos primeiros meses que se seguiram à queda da União Soviética, o sistema de salvamento das pessoas nessas condições estava destruído. Não estávamos prontos para enfrentar esse tipo de tragédia", conta, em entrevista à AFP.
O ex-almirante admite que, dez anos depois, a Rússia continuaria tão impotente quanto na época, se ocorresse outro drama. "Podemos entregar uma ajuda de primeria urgência (...). A reconstituição dos meios de socorro é um objetivo que ainda temos que alcançar", sustenta.