Agência France-Presse
postado em 17/08/2010 14:23
O governo de coalizão britânico dirigido por David Cameron completa hoje (17/8) 100 dias intensos de existência, marcados por um drástico plano de austeridade econômica. No entanto, os maiores objetivos ainda estão por vir, com a aplicação de cortes sociais e uma polêmica reforma eleitoral.Nesses pouco mais de três meses, o primeiro-ministro conservador calou os céticos, que alertavam contra uma inevitável imobilidade e mesmo para o colapso do governo, montado em parceria com os liberal-democratas de Nick Clegg, na primeira coalizão a governar na Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial.
Desde o primeiro dia, a principal prioridade de Cameron e da equipe tem sido a redução do enorme déficit orçamentário do país, herdado dos antecessores trabalhistas. Para isso, implementou um plano de austeridade sem precedentes, que incluiu a supressão de programas sociais e o aumento de impostos.
Mas a nova administração, resultado da ausência de maioria absoluta nas eleições de 6 de maio, também lançou um programa de profundas reformas em âmbitos tão diversos quanto a educação, a assistência social, a polícia, a imigração e o sistema político.
"Tivemos 100 dias muito mais radicais do que previa a sabedoria popular", escreveu Clegg em uma coluna na edição de domingo do jornal The Observer, estimando que esse primeiro período ainda é insuficiente para fazer um verdadeiro balanço da nova gestão.
No entanto, advertiu o vice-primeiro-ministro, "reduzir o gasto público já levou a algumas decisões polêmicas, e com a proximidade (do relatório sobre) a revisão de gastos do outono, estamos perto de muitas outras mais".
Em 20 de outubro, o governo deve dar detalhes sobre como pretende reduzir o atual déficit, de 154,7 bilhões de libras (10,1% do PIB), para 37 bilhões no exercício fiscal 2014/15. A data será aproveitada por funcionários do setor público para manifestar a insatisfação com as medidas de ajuste.
Segundo uma pesquisa publicada neste fim de semana pelo jornal Daily Mail, 57% dos britânicos considera "decepcionante" a atuação da coalizão até agora.
"Se esse governo teve alguma vez uma lua de mel, ela já terminou", declarou ao jornal Anthony King, professor de política governamental da Universidade de Essex, indicando, no entanto, que os britânicos ainda "não se desencantaram com Cameron".
Apesar da falta de experiência, o carismático líder - que com apenas 43 anos se tornou o primeiro-ministro mais jovem em 200 anos, entrou pisando firme em Downing Street, apesar de algumas gafes diplomáticas - como quando, em visita recente à Índia, acusou o Paquistão de "exportar o terrorismo".
Clegg parece estar pagando o preço da arriscada aposta, uma vez que o pequeno partido de centro-esquerda despencou nas pesquisas de opinião ao longo dos últimos 100 dias.