Agência France-Presse
postado em 19/08/2010 16:23
O Exército alemão deu por encerrado hoje (19/8) o conturbado caso de um ataque da Otan no Afeganistão ordenado no ano passado por um coronel alemão, afastando qualquer procedimento disciplinar contra ele.A Bundeswehr não punirá Georg Klein, que deu a ordem de um ataque aéreo em Kunduz (norte do Afeganistão) em 4 de setembro de 2009: a investigação preliminar não forneceu elemento algum que leve a crer que tenha desrespeitado as ordens e as regras em vigor em nível nacional e internacional, explicou o Bundeswehr.
O ataque da Otan em Kunduz, em uma região onde o Bundeswehr está mobilizado desde 2003, deixou 91 mortos e 11 feridos, mas o número de civis mortos permanece incerto, segundo o Ministério alemão da Defesa.
Por solicitação do comando alemão no norte do Afeganistão, onde estão mobilizados 4,5 mil soldados do Bundeswehr, aviões americanos da Otan bombardearam dois caminhões-tanque que antes haviam sido roubados pelos talibãs. O coronel Klein temia que os insurgentes usassem os veículos como bombas ambulantes.
Depois de algumas tentativas de minimizar o caso feitas por Berlim, a investigação se tornou política. O bombardeio foi atribuído a uma provável falha de avaliação no local.
O caso se tornou um escândalo na Alemanha e colocou a missão alemã em descrédito, suscitando o descontentamento de grande parte da população alemã, enquanto 43 soldados do Bundeswehr morreram no Afeganistão. A situação causou a demissão do ministro alemão da Defesa na época, Franz Josef Jung, do chefe do Estado-Maior, do general Wolfgang Schneiderhan, e de um secretário de Estado da Defesa, Peter Wichert.
Até uma comissão de investigação parlamentar foi criada no fim de 2009, para esclarecer quem sabia o que e quando.
O sucessor de Jung, Karl-Theodor zu Guttenberg, considerou então que esse ataque foi "apropriado", e, depois, "inapropriado".
Em abril, o procurador geral federal tornou a encerrar a investigação aberta sobre Georg Klein, por considerar que o oficial não havia infringido o Direito Internarcional ou o Direito Penal alemão. O coronel não sabia da presença de civis perto dos caminhões, segundo a Procuradoria federal. Com isso, os soldados não podem ser considerados responsáveis penalmente pela morte de civis, já que respeitaram as regras às quais estavam submetidos, havia argumentado o procurador.
As famílias de civis afegãos atingidos no ataque, representadas por advogados, exigiam milhões de euros em indenizações.
Berlim cumpriu em parte as reivindicações: no início de agosto, o Ministério da Defesa anunciou que o Bundeswehr entregou US$ 430 mil às famílias atingidas no ataque. Cada uma recebeu US$ 5 mil.
"Uma medida que não constitui uma indenização no sentido jurídico do termo, mas uma ajuda humanitária", explicou o ministério.