Agência France-Presse
postado em 20/08/2010 11:28
A justiça da Tailândia autorizou nesta sexta-feira (20/8) a extradição do ex-oficial russo Vetor Bout para os Estados Unidos, para ser julgado pelo fornecimento de armas a grupos armados em todo mundo, gerando críticas por parte de Moscou, que quer que ele seja enviado de volta para seu país.Vetor Boot, ex-oficial da força aérea soviética de 43 anos, teria inspirado o personagem interpretado por Nicolas Coage no filme "O senhor das armas".
Desde que foi detido em um hotel de Bangkok, onde se reunira com agentes americanos que se fizeram passar por membros das guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), os Estados Unidos pressionaram sem cessar a Tailândia, cuja justiça havia inicialmente negado a extradição, para que Bout fosse extraditado.
Entre as acusações de Washington contra Bout, também conhecido como "O mercador da morte", está a que ele teria vendido armas para grupos que dizem fazer parte da Al-Qaeda.
Na véspera, Washington voltou a insistir: "Achamos que apresentamos provas significativas que justificam a extradição", afirmou o departamento de Estado.
Bout poderá ser condenado à prisão perpétua por acusações que incluem terrorismo, conspiração para matar oficiais americanos e para adquiridor e utilizar mísseis antiaéreos.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, por sua vez, condenou a decisão da justiça tailandesa e prometeu fazer o possível para que ele volte para a Rússia.
"Do meu ponto de vista, trata-se de uma decisão injusta e política, que lamentamos", declarou o chanceler russo. "Dada a informação de que dispomos, consideramos que a decisão foi tomada sob forte pressão externa", acrescentou, referindo-se implicitamente aos Estados Unidos.
A fama mundial de Bout motivou sua prisão, explicou na ocasião Alex Vines, do instituto britânico Chatham House.
Para Vines, trata-se de um setor em que se precisa ser discreto e Bout começou a ser muito mencionado em relatórios da ONU.
Por sua parte, Bout, que sempre se disse inocente, afirma fazer transporte de carga legal e nega qualquer vínculo com grupos terroristas.
Segundo um relatório das Nações Unidas, Bout nasceu em 1967, em Dusambé, na então república soviética do Tadjiquistão, na Ásia Central.
Posteriormente estudou no Instituto Militar de Idiomas Estrangeiros de Moscou e depois entrou para a força aérea soviética. Bout também sempre negou ter feito parte da KGB.
Em uma das poucas entrevistas que concedeu à imprensa, disse ao New York Times, em 2003, ter entrado no mundo dos negócios em 1992, quando, aos 25 anos, comprou três aviões de carga Antonov por 120.000 dólares.
Para a ONU e os serviços secretos das potências, Bout, que trabalhou em Angola e fala seis idiomas, está em boas condições para aproveitar a queda do Muro de Berlim comprando a preços muito baixos armas e material militar soviéticos em bases semiabandonadas.
Posteriormente, ao invés de contratar transportistas, optou por formar sua própria frota de aviões para levar o material vendido às zonas de conflito.
Segundo os jornalistas americanos Douglas Farah, coautor do livro "O Mercador da Morte", Bout "era um oficial que aproveitou três coisas com o desaparecimento da União Soviética: os aviões abandonados em pistas entre Moscou e Kiev (...), os enormes estoques de armas vigiadas por soldados que já não recebiam salário e um forte aumento da demanda (mundial) de armas".
"Ele ficou com os aviões pagando muito pouco, os encheu de armas que saíram muito baratas e as enviou para quem tinha dinheiro para comprá-las", declarou Farah à revista americana Mother Jones.
Para o jornalista americano, no início da invasão do Iraque pelas tropas dirigidas pelos Estados Unidos, em 2003, Bout também transportou material a pedido de empresas terceirizadas pelas forças armadas americanas.
O apelido de "Mercador da Morte" foi dado por um ex-ministro britânico das Relações Exteriores e utilizado em um livro publicado em 2007 sobre suas supostas atividades.