Quatorze milhões de australianos vão às urnas, neste sábado (21/8), para participar das eleições legislativas antecipadas, convocadas pelos trabalhitas da primeira-ministra Julia Gillard em busca da confiança dos eleitores, apesar de uma votação muito acirrada e de resultado ainda muito incerto.
Gillard entrou com tudo na disputa ao se declarar, esta semana, favorável à transformação do país numa república, após a morte da rainha Elizabeth II, que detém o posto de chefe de Estado desta ilha-continente de 22 milhões de pessoas, como em muitas outras ex-colônias britânicas que fazem parte da Commonwealth. "Acho que este país deveria ser uma república", declarou a primeira mulher a governar a Austrália.
Ela explicou, no entanto, não duvidar de que a nação sente "um grande afeto pela rainha Elizabeth" e que espera que a soberana "viva por muito tempo". Como primeira-ministra, gostaria que trabalhássemos para chegar a um acordo sobre o modelo de república", completou.
Apesar da Austrália ser independente desde 1901, a rainha Elizabeth II continua sendo a chefe de Estado e seu rosto está estampado na moeda nacional. De qualquer forma, os australianos já se pronunciaram contra a transformação do país em república num referendo em 1999 e o debate continua dividindo o país.
As últimas pesquisas dão a Gillard uma leve vantagem de quatro pontos (52% a 48%) em relação ao conservador Tony Abbott, que durante a campanha insistiu na necessidade de frear a afluência dos refugiados de toda a Ásia.
Muitos australianos admitem a possibilidade de um Parlamento sem maioria absoluta pela primeira vez em 70 anos.
Julia Gillard, advogada de 48 anos, nascida em Gales, foi eleita por seu partido, em junho, para suceder a Kevin Rudd, após uma série de revezes políticos.
Rudd - cuja eleição em 2007 pôs fim a 11 anos de poder do conservador John Howard - foi afetado por algumas difíceis decisões, como o abandono de um plano de luta contra a mudança climática e um projeto de criar um imposto sobre os enormes lucros dos grupos mineradores.
Durante uma breve campanha, os australianos puderam apreciar dois estilos claramente diferentes.
Gillard é solteira, sem filhos e ateia e Abbott, um fervoroso católico de 52 anos que se apresenta como representante da família.
Os trabalhistas põem ênfase no bem-estar econômico, já que a Austrália foi - graças a um ambicioso plano de recuperação - a única economia desenvolvida a evitar a recessão durante a crise financeira.
O governo prometeu dar continuidade aos investimentos em infraestrutura, saúde e educação, mas se vê prejudicado com a impopularidade do projeto de impostos incidindo sobre a atividade de mineração, que irritou companhias como a BHP Billiton e a Rio Tinto.
Gillard chegou até a acertar um compromisso com as mineradoras, prometendo reduzir o projeto de imposto entre 40% e 30%.
Em relação à imigração, reviveu o polêmico projeto de criar um centro de detenção de imigrantes no Timor Leste e anunciou o restabelecimento de estudos de demandas de asilo por parte de refugiados de Sri Lanka, que haviam sido suspensos pelo antecessor.
Abbott - nascido na Grã-Bretanha - reconhece que a Austrália é uma nação fundada graças à imigração, mas se comprometeu a limitar o número de imigrantes.
Caso os 14 milhões de eleitores inscritos - sujeitos ao voto obrigatório - concedam o mesmo número de votos aos dois partidos, trabalhistas e conservadores teriam que buscar uma coalizão com os verdes - terceiro partido em força - para formar o governo.