Agência France-Presse
postado em 22/08/2010 10:39
O Paquistão evacuou neste domingo (22/8) cem mil pessoas por risco de novas inundações, um mês depois do início de uma tragédia que aumentou a desconfiança da população em relação ao governo, fazendo temer que ocorram distúrbios sob o olhar interessado dos islamitas.Os habitantes da cidade paquistanesa de Shahdadkot, na província de Sind (sul), foram evacuados preventivamente na noite de sábado devido à cheia dos afluentes do rio Indus, informaram as autoridades do Paquistão, país afetado por inundações que deixaram até o momento 1.500 mortos e oito milhões de pessoas desabrigadas.
"Tentamos proteger a cidade de Shahdadkot (100.000 habitantes) ameaçada pela alta das águas", declarou Jam Sa;fullah Dharejo, ministro provincial de Irrigação em Karachi, capital de Sind. Até o momento, não foram registradas mortes.
O impacto social das inundações se anuncia devastador para uma nação que já atravessava graves dificuldades financeiras. Um quarto da população paquistanesa vive abaixo do limite da pobreza.
O país enfrenta agora perdas econômicas de 43 bilhões de dólares que levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a anunciar uma reunião em Washington, na próxima semana, para estudar o modo de acudir em ajuda de Islamabad.
A cólera contra o governo do presidente Asif Ali Zardari, que é considerado corrupto e incompetente, aumenta nos acampamentos de desabrigados.
As pessoas afetadas esperam ainda por comida e medicamentos, e os seis milhões de sem teto reclamam moradia.
[SAIBAMAIS]Do noroeste de Sind (sul), passando por Pendjab (centro), as vítimas bloquearam várias vezes as estradas e confrontaram a polícia.
"Em Muzaffargarh, um dos distritos mais afetados do sul de Penbjab, as pessoas bloqueiam as estradas, roubam os caminhões de ajuda alimentar e denunciam a ausência de ajuda", explicou Jamshaid Dasti, responsável local do Partido do Povo do Paquistão (PPP), o movimento de Zardari, advertindo que "a situação poderá tornar-se incontrolável".
"O governo é tão frágil que pode se ver ameaçado pelo menor movimento social", avaliou Qaiser Bengali, conselheiro do governo provincial de Sind.
Outro temor é que os islamitas radicais se aproveitem desta situação para ganhar terreno, como aconteceu com o Hezbollah no Líbano ou o Hamas em Gaza.
"Com o tempo, isso pode levar as pessoas a pensar que os grupos religiosos são mais eficientes que o Estado", e reforçar assim o poder das mesquitas e madrassas (escolas corânicas)", explica Qaiser Bengali.
Os talibãs, aliados da Al-Qaeda, poderão se aproveitar da miséria das pessoas para recrutá-las. "Mas não representam uma ameaça imediata, já que foram deslocados pelas ofensivas do exército desde o ano passado", acrescentou o analista Hassan Askari.