Agência France-Presse
postado em 24/08/2010 10:48
A polícia filipina reconheceu nesta terça-feira ter cometido uma série de erros na administração da crise provocada pelo sequestro de um ônibus na segunda-feira em Manila, que terminou com a morte de oito turistas de Hong Kong, onde o governo condenou fortemente o desfecho da operação de resgate.Após 12 horas de sequestro, a polícia tentou invadir o ônibus, no qual 15 pessoas ainda eram mantidas reféns por Rolando Mendoza, 55 anos, um ex-policial filipino expulso da corporação por roubo, extorsão e outros crimes, e que exigia ser reincorporado à força. Ele acabou morto a tiros pelos agentes.
Oito turistas morreram e um foi hospitalizado gravemente ferido. Apenas quatro saíram vivos do ônibus.
Durante uma hora, as forças especiais tentaram invadir o ônibus em vão. Primeiro, tentaram quebrar os vidros com uma marreta; em seguida, um dos agentes quase foi atingido ao tentar entrar por uma das saídas de emergência.
Finalmente, os policiais conseguiram jogar uma bomba de gás lacrimogêneo através de uma das janelas quebradas, e um atirador de elitr conseguiu atingir o sequestrador na cabeça.
No entanto, já era tarde demais: oito reféns haviam sido mortos.
"Nós constatamos evidentes deficiências em termos de potencial e de táticas utilizadas, e respeito ao procedimento seguido, e isto será objeto de uma investigação", declarou o chefe da polícia de Manila, Leocadio Santiago.
[SAIBAMAIS]O presidente filipino, Benigno Aquino, também admitiu que a tragédia tornou patentes as falhas da polícia filipina ao lidar com situações de crise.
"A tragédia é o resultado de vários fatores. Não resta dúvida de que precisamos melhorar", declarou Aquino à imprensa.
O presidente questionou também o papel dos meios de comunicação no episódio, referindo-se à entrevista concedida pelo sequestrador a uma rádio - na qual ele informou ter matado dois reféns - e ao fato de que Mendoza pôde acompanhar toda a movimentação da polícia, transmitida ao vivo por vários canais de televisão, em aparelhos instalados no interior do ônibus.
No entanto, o presidente disse concordar com a decisão da polícia de esperar dez horas antes de lançar um assalto ao ônibus, afirmando que os policiais acreditavam que as negociações com o sequestrador, que já havia liberado nove reféns, poderiam ter êxito.
Contudo, tanto as famílias das vítimas quanto as autoridades de Hong Kong manifestaram raiva e frustração com o trágico desfecho do sequestro.
O governo de Hong Kong declarou-se "muito decepcionado".
"Nós exigimos que as autoridades filipinas realizem uma investigação detalhada e completa sobre o incidente e nos informem o mais rápido possível", disse nesta terça-feira o chefe do executivo de Hong Kong, Donald Tsang.
A embaixada da China em Manila indicou que "o governo chinês condena energicamente as atrocidades do sequestrador", e pediu que as autoridades filipinas "garantam a segurança dos cidadãos chineses nas Filipinas".
Segundo a senhora Leung, uma das sobreviventes - que perdeu o marido e as duas filhas no sequestro, e cujo filho está internado em uma unidade de terapia intensiva com ferimentos graves -, a polícia não deveria ter esperado tanto tempo para agir.
"Éramos muitas pessoas a bordo, e ninguém veio nos ajudar. Por que não deram dinheiro para ele? Se era simplesmente uma questão de dinheiro, é realmente cruel", disse a mulher, em entrevista ao canal Cable News TV. De acordo com a imprensa, o marido de Leung foi morto com vários tiros quando se jogou contra o sequestrador para evitar que ele atirasse em sua família.
Dois aviões foram enviados a Manila para levar os familiares da vítimas, acompanhados por médicos e psicólogos.