;Esqueça! Você quer que eu morra e seja massacrado pelo Al-Shabab? Eles não são brincadeira. Eu tenho família e filhos;, afirmou um morador de Mogadíscio, declinando o pedido de entrevista. O somali, que também não quis ser identificado, referia-se ao grupo islâmico que há três anos espalha o terror pelo país. Também com a condição de não ter seu nome completo publicado, o empresário contou à reportagem que ouviu os tiros e as explosões na manhã de ontem. A 500m de sua casa, no bairro central de Hamar-Weyne, dois guerrilheiros da facção Al-Shabab ; aliada da rede terrorista Al-Qaeda ; invadiram o Hotel Muna já atirando, usando uniformes das forças de segurança do governo. ;Eu escutei cerca de oito explosões e vi a morte de perto. Tudo parecia tremer;, descreveu Bashir.
Às 9h58 (3h58 em Brasília), os extremistas haviam acabado de detonar as bombas amarradas ao próprio corpo, matando 33 pessoas, incluindo seis parlamentares e cinco guarda-costas, e ferindo cerca de 150 pessoas. ;A ação durou uns 15 minutos. Pude ver a fumaça no céu, após as explosões;, relatou o empresário. Antes de se matarem, os suicidas dispararam contra dois seguranças e foram de quarto em quarto, abrindo fogo a esmo.
Por telefone, de Mogadíscio, o jornalista Mustafa Abbd Nur descreveu ao Correio o que viu assim que chegou ao Hotel Muna. ;Eu estava em uma região militar, bem perto dali, quando os militantes islâmicos invadiram o prédio. Antes das explosões ocorrerem, havia barulho de tiros e de rajadas de metralhadoras;, lembra. ;Vi as forças do governo somali se aproximarem do Hotel Muna e serem recebidas à bala por extremistas posicionados no telhado;, acrescentou. Depois que os invasores se mataram, Mustafa foi um dos primeiros a entrar na construção. ;Vi um cenário horrível dentro do hotel. Os terroristas quebraram todas as janelas e portas e reviraram os quartos, procurando por pessoas que estivessem escondidas sob as camas;, relatou. Segundo ele, autoridades sanitárias revelaram que mais de 60 civis morreram desde a segunda-feira, nos intensos combates que tomaram conta da capital da Somália. À 0h de hoje (18h de ontem em Brasília), os tiroteios haviam dado uma trégua, mas a situação ainda era tensa. ;As forças do governo intensificaram a segurança;, afirmou.
Guerra
A milícia islâmica Al-Shabab assumiu a autoria do atentado e declarou guerra total aos invasores ; uma referência à presença de seis mil soldados do Burundi e de Uganda que compõem uma força de paz da União Africana. ;Nós estamos embarcando em uma ofensiva de larga escala contra o governo apóstata e seus apoiadores estrangeiros. Convocamos o povo a cavar buracos (trincheiras) dentro de suas casas para evitar possíveis baixas civis;, declarou o xeque Ali Mohamud Dhere, porta-voz do Al-Shabab. O também jornalista Mohammed Shiil, 47 anos, decidiu fugir há um ano para Hargeysa, capital da autônoma República de Somalland situada a 2 mil quilômetros de Mogadíscio. ;Os militantes do grupo Al-Shabab já mataram muitos jornalistas e ameaçaram outros. São muito bem organizados, em contraste com as forças do governo de transição, mal planejadas. Por isso, os extremistas sempre atacam posições próximas a instalações do governo;, conclui.
O atentado de ontem ocorreu a poucos quilômetros do Palácio Presidencial e da Embaixada dos Estados Unidos. A Casa Branca deplorou o massacre no Hotel Muna e prometeu trabalhar para minar os esforços da milícia Al-Shabab para implantar a sharia no país. ;É particularmente ultrajante que ele (o ataque) tenha ocorrido durante o mês islâmico do Ramadã;, declarou John Brennan, conselheiro de contraterrorismo do presidente Barack Obama. ;A visão da Al-Shabab para a África permanece em claro contraste com a visão da vasta maioria dos africanos;, acrescentou o assessor.
Ouça o jornalista somali Mustafa Abbd Nur contar o que viu após chegar ao Hotel Muna (em inglês)