Faltavam apenas 160km para que os 76 imigrantes ilegais ; provenientes de Brasil, Equador, Honduras e El Salvador ; começassem a experimentar o chamado ;American dream;. Cada um pagou cerca de US$ 5 mil a um coiote, criminoso que os ajudaria a atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos. Mas o sonho foi massacrado, supostamente pelos narcotraficantes do cartel Los Zetas. Na última segunda-feira, militares da Marinha mexicana encontraram 72 corpos dos imigrantes (58 homens e 14 mulheres) dentro de uma fossa, em um rancho situado a 22km da cidade de San Fernando, no estado de Taumalipas.
Em entrevista ao Correio, por telefone, o embaixador Márcio Lage, cônsul geral do Brasil no México, confirmou que quatro brasileiros estão entre os mortos. ;A informação que temos da Secretaria das Relações Exteriores do México é de que são quatro, mas ainda não foram identificados, nem sabemos ainda se são homens ou mulheres;, disse o diplomata. ;O governo mexicano colocou à disposição dos quatro países representantes consulares para verificar a documentação das pessoas mortas;, acrescentou. Segundo ele, a informação sobre a nacionalidade das vítimas deve ser divulgada hoje. ;Estou enviando o nosso vice-cônsul (João Carlos Zaidan) para região;, comentou Lage.
A Procuradoria-Geral da República e a Marinha ainda investigam as circunstâncias da chacina. O equatoriano Luis Fredy Lala Pomavilla, sobrevivente da matança, contou ao Ministério Público que o terror teve início quando os imigrantes encontraram pelo caminho um comboio com homens fortemente armados. O grupo teria sido levado ao encontro do chefe de Los Zetas. Após interrogá-los, o suposto líder ofereceu-lhes US$ 1 mil por 15 dias de trabalho como pistoleiros. Diante de uma negativa, o criminoso ordenou que os estrangeiros fossem imobilizados e amordaçados. Pomavilla disse que, nesse momento, ouviu os tiros.
Ouça o relato de O.C., mexicano que vive perto de San Fernando
Por meio de um comunicado, a Marinha revelou ter localizado os corpos depois que um homem chegou ao posto de controle, em uma rodovia, com ferimentos à bala. Apoiados por unidades aeronavais, os militares se dirigiram ao local indicado por Pomavilla e foram recebidos a tiros. ;Após repelirem várias agressões, detiveram um suposto delinquente ; menor de idade ; que se encontra à disposição da Procuradoria Geral da República;, afirma a nota, segundo a qual três criminosos e um militar morreram. Além dos 72 corpos, os militares apreenderam seis carabinas M-4, três fuzis AK-47, sete escopetas calibre 12, cinco rifles calibre 22, 101 carregadores de armas, 2 cintas de munição, 6.649 cartuchos, unformes camuflados e quatro camionetas ; uma delas idêntica às viaturas da Secretaria da Defesa Nacional.
Medo
O cartel Los Zetas tem espalhado o pânico no estado de Tamaulipas. Também por telefone, o Correio falou com o fazendeiro O.C. ; ele pediu para não ser identificado ;, que mora a apenas 30km do rancho onde os corpos foram descobertos. ;Aqui a situação é caótica. Estamos enfrentando uma guerra entre o grupo Los Zetas e o cartel do Golfo. Os combates começaram em fevereiro;, relatou. ;Os Zetas são praticamente donos do Estado. Eles controlam as rodovias, extorquem, matam e sequestram. O que aconteceu com os 72 imigrantes é apenas a ponta do iceberg;, acrescentou.
O.C. afirma que a atmosfera na fronteira é ;horrível;. ;Os criminosos passam de rancho em rancho capturando menores e forçando-os a trabalhar para eles;, descreveu. ;Os combates entre as forças federais e o cartel Los Zetas ocorrem entre as cidades de San Fernando e Reynosa, já que os narcotraficantes querem espalhar seus negócios para o norte;, disse. Sob condição de anonimato, uma moradora de Matamoros, vizinha a San Fernando, afirmou estar apavorada. ;Na noite passada (terça-feira), granadas foram lançadas sobre uma ponte. É claro que temos medo, e muito!”