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Começa processo de identificação dos 72 corpos encontrados no México

Agência France-Presse
postado em 26/08/2010 10:58
Diplomatas do Brasil, Honduras, Equador e El Salvador chegarão nesta quinta-feira ao estado mexicano de Tamaulipas (nordeste) para identificar os corpos de 72 supostos imigrantes assassinados, em uma chacina que expôs o drama da imigração clandestina para os Estados Unidos.

A chancelaria mexicana pretende enviar agentes consulares de Brasil, Equador, El Salvador e Honduras a San Fernando, onde estão os corpos dos imigrantes que foram mortos em um rancho próximo a este povoado, segundo informou à AFP Marcio Lage, cônsul geral do Brasil no México.

Na terça-feira, militares mexicanos encontraram 72 cadáveres - pelo menos quatro deles de brasileiros - em um rancho de San Fernando, após a denúncia feita por um sobrevivente do massacre.

O equatoriano sobrevivente, de 18 anos, contou ter levado um tiro no pescoço e fingido de morto em meio aos corpos dos outros imigrantes para escapar. Ele denunciou o caso ao exército.

Lage informou que o agente brasileiro verificará os documentos encontrados com as vítimas para identificar sua nacionalidade.

A embaixada de El Salvador no México indicou, por sua vez, que ainda não há "dados confirmados" sobre os salvadorenhos mortos. Hugo Carrillo, embaixador do país no México, informou à AFP que dois cônsules viajarão nesta quinta-feira para lidar com a situação.

Uma fonte do Ministério Público de Tamaulipas explicou que, segundo a versão do sobrevivente, os assassinos, membros do crime organizado local ligado ao narcotráfico, haviam convidado o grupo para trabalhar para seu bando, com pagamento de 1.000 dólares quinzenais.

Ao rejeitarem a proposta, os imigrantes foram atacados pelos traficantes a tiros.

O equatoriano, aparentemente única testemunha do crime, indicou membros do cartel dos Zetas como responsáveis pelas mortes. Ele está em um hospital sob forte vigilância e será receberá proteção do Ministério Público.

O presidente mexicano, Felipe Calderón, condenou "energicamente" o massacre dos 72 imigrantes. "O presidente Felipe Calderón condena energicamente os fatos nos quais perderam a vida 72 pessoas, supostamente imigrantes", assinala um comunicado oficial da presidência, que enfatiza que esta matança aconteceu "dentro de uma luta violenta entre o cartel do Golfo e seus ex-aliados, Los Zetas".

[SAIBAMAIS]Los Zetas são soldados desertores do exército mexicano que foram recrutados pelo narcotráfico. "Eles recorrem à extorsão e ao sequestro de imigrantes como mecanismo de financiamento e de recrutamento devido ao fato de estarem enfrentando uma situação muito adversa para abastecer-se de recursos e de pessoas", acrescenta o texto, que atribuiu esse enfraquecimento dos carteis às ações do governo.

O governo dos Estados Unidos, autoridades e entidades dedicadas à defesa dos imigrantes, organizações internacionais e direitos humanos também criticaram a matança.

Todos os países que têm cidadãos entre as vítimas já anunciaram que colaborarão com as investigações das autoridades mexicanas.

Até agora são desconhecidos os detalhes sobre a tragédia, mas esta trouxe para o centro das discussões o drama do sequestro sofrido por milhares de imigrantes que cruzam sem documentos o território mexicano para tentar chegar aos Estados Unidos.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos registrou em 2009 a privação da liberdade de 10.000 imigrantes sem documentados num período de seis meses por parte de integrantes do cartel dos Zetas.

O estado de Tamaulipas é cenário de violentas disputas entre o cartel de traficantes do Golfo e seus antigos aliados, Los Zetas, liderados por soldados de elite desertores aos quais as autoridades acusam de cometer distintos massacres e de cometer sequestros em massa de imigrantes ilegais.

A violência desatada pelo narcotráfico provocou mais de 28.000 mortos desde o final de 2006. O governo do México mobilizou 50.000 militares para combater os carteis.

Nos últimos dois meses e meio houve no México outros dois grandes descobertas de corpos, em valas clandestinas que, segundo as autoridades, foram usadas por pistoleiros do narcotráfico para livrar-se dos inimigos. Uma delas foi em julho, no estado de Nuevo León (norte).

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