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Kirchner quer ter controle do papel

Governo enviará projeto ao Congresso declarando a atividade de "interesse público"

postado em 27/08/2010 07:20
A presidenta Cristina Kirchner fala sobre a disputa com os grandes jornais: ambos os lados evocam a ditaduraDois dias depois de ameaçar os dois principais jornais da Argentina, Clarín e La Nación, em meio à disputa sobre o controle de uma fábrica de papel, a presidenta Cristina Kirchner defendeu ontem os valores democráticos e disse que ;aguentará o que tiver de aguentar;. O chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, defendeu o projeto de declarar a empresa, a Papel Prensa, como de interesse público, e disse que o governo enviará o texto ao Congresso ;brevemente;. O Estado é o segundo maior acionista da papeleira, principal produtora de papel-jornal do país, e quer assumir a maioria. Atualmente, o principal acionista é o Clarín.

;Não se deve proibir as importações (de papel), mas temos de investir para produzir o suficiente, de modo que ninguém tenha limitações de papel para publicar o que queira;, disse Fernández a jornalistas argentinos. O chefe de Gabinete destacou que o objetivo do projeto é ;garantir que o papel chegue a todos os meios, se possível produzido pela Argentina e mais barato;. Acusada pelos donos do Clarín e do La Nación de ameaçar a imprensa pelo controle do principal insumo, a presidenta rebateu a crítica durante um evento para alunos de ensino médio. O governo alega que a Papel Prensa teria sido comprada por seus atuais controladores durante a ditadura militar, mediante coação ao antigo proprietário. Falando aos estudantes Cristina pediu a eles que ;tenham memória, para saber a necessidade de cuidar da democracia, de suas instituições e seus valores;.

O advogado e radialista Adrián Ventura, do La Nación, desqualificou tanto o projeto de lei sobre o papel quanto as denúncias levantadas contra os diretores da Papel Prensa por violação de direitos humanos. Na opinião de Ventura, ambos os movimentos correspondem à necessidade do governo de construir um novo relato oficial da história, e violam a Constituição. ;O governo pretende minar a credibilidade dos meios críticos e convencer os cidadãos de que só agora ; graças ao kirchnerismo ; começamos a viver a mais madura e verdadeira democracia;, argumenta.

A Associação Internacional de Radiodifusão (AIR) alertou que o projeto de declarar de ;interesse público; a produção, distribuição e comercialização de papel jornal ;poderia se tornar um instrumento a mais de controle e pressão; contra a imprensa. ;Quando uma autoridade tem conhecimento de fatos que, a seu critério, merecem investigação judicial, sua obrigação é denunciá-los prontamente aos tribunais e colaborar para o pleno esclarecimento;, informou a associação, que tem sede em Montevidéu e representa mais de 17 mil emissoras privadas de rádio e televisão de todo o mundo. Segundo a AIR, ;a cerimônia, a cenografia e o ritual do ato; durante o qual Cristina fez a denúncia ;não contribuem para a atuação oportuna e independente do Judiciário;.

Guerra de versões
Na terça-feira, Cristina divulgou o relatório Papel Prensa: a verdade. No documento, de 26 mil páginas, a presidenta acusou os meios privados de terem se apropriado da fábrica em 1976, com a cumplicidade do regime ditatorial. Os jornais Clarín e La Nación desmentiram a versão do governo. A Papel Prensa alega que abastece mais de 130 clientes na Argentina, com capacidade de fabricar 170 mil toneladas de papel ao ano: 75% ficam para os dois maiores jornais e o restante é vendido. Segundo o jornal Página 12, o excedente é distribuído entre dezenas de clientes que ;não podem deixar de comprar a cota concedida, sob o risco de perdê-la no período seguinte;.

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