Os cinco homens e quatro mulheres pretendem se revezar para escrever cartas a Jorge Hernán Galleguillos Orellana, 56 anos, um dos 33 mineiros presos na Mina San José. Eles sabem que o irmão enfrentará meses difíceis. Nem mesmo os vídeos divulgados ontem bastaram para acalmar a família. Na manhã de ontem, Lorenzo Galleguillos participava de uma reunião próximo ao duto de 8m de diâmetro ; o único acesso de Jorge e dos colegas ao mundo externo ; quando falou ao Correio por telefone. De acordo com ele, o irmão está ;muito desanimado; e já perdeu 15kg desde o acidente, no último dia 5. Como a família reagiu à divulgação dos vídeos dos mineiros? São imagens muito impactantes, porque Jorge aparecia muito abaixo do peso. Antes, ele pesava uns 95kg, e creio que está com uns 15kg a menos. Também percebi que ele está muito desanimado. Não consegui falar com ele. Acredito que na próxima quarta-feira entrarei em comunicação com ele. O humor alterado é compreensível. Jorge tem uma família fora de lá e não sabe o que se passa por aqui. Eles estão vivendo em um mundo particular e não imaginam o apoio que têm recebido aqui em cima. O que mais impressionou no vídeo foi a força que existe no interior da mina, apesar desses 22 dias. Eles estão determinados a sair de lá. São um exemplo para o Chile. Seu irmão trabalha há quanto tempo na mina? Ele já tinha vivido outra situação de perigo? Ele trabalha aqui há quatro anos. Em fevereiro passado, houve um acidente. Uma rocha desmoronou e arrancou-lhe uma parte do glúteo. Ele ficou uma semana no hospital. De que forma Jorge deve reagir nos próximos dias? Ele é uma pessoa tranquila? Sim, Jorge é tranquilo e alegre. Eu o compreendo, porque estar sob a terra, sem saber nada sobre a vida real, sem saber sobre a reação dos dois filhos... A notícia mais recente é de que ele está bem. Nós enviamos algumas coisas, incluindo uma carta da mamãe. Vou mandar uma carta e creio que amanhã ele responderá. Direi que estamos esperando por ele aqui fora. Houve algum erro da mineradora? Sua família pensa em processar a empresa? Estamos vendo por aqui uma guerrilha geral contra a empresa. Estamos deixando isso por conta da mulher dele e de seu filho. Não havia nenhuma garantia de segurança. Essa mina sofria problemas por parte de financiamentos do governo, que nunca a fiscalizou. Quando os mineiros saírem, creio que haverá muita repercussão em relação às responsabilidades pela tragédia. Como sua família busca forças para esses quatro meses, até o resgate? Nossa família é muito grande. Somos 10 irmãos aqui. A ideia é nos revezarmos para escrever uma carta a Jorge todos os dias, a fim de que ele não se sinta sozinho. O importante é não deixá-lo só. Não tenho nada a reclamar das autoridades. O governo tem ajudado no resgate. Os prefeitos de Caldera, Tierra Amarilla e Copiapó têm ajudado. Na sua opinião, qual será o segredo para que seu irmão e os outros 32 mineiros resistam? O companheirismo lá embaixo e a esperança de sair. Eles têm de ter esperança, companheirismo e pedir a Deus que os proteja, para que possam sair.