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México demite 10% da Polícia Federal e EUA ajudará na patrulha da região

postado em 31/08/2010 07:10
Eles se conheceram brevemente em 2007 e tinham discordâncias políticas. ;Quando o conheci, eu fazia parte do Partido da Revolução Democrática e ele era membro do Partido Revolucionário Institucional. Marco Antonio Leal Garcia gozava de boa popularidade até alguns meses atrás, mas seu município foi golpeado pelo furacão Alex e ele mostrou alguma incompetência na resposta ao desastre;, afirmou ao Correio, pela internet, Alejandro Echartea, ilustrador de um jornal de Ciudad Victoria, capital do estado de Tamaulipas. O mexicano de 34 anos se referia ao prefeito de Hidalgo, cidade situada a 100km dali. Marco Antonio foi executado às 16h30 de domingo (18h30 em Brasília), quando viajava com a filha María Esther Leal Valdez, 10 anos. O atentado ocorreu em uma estrada que leva à localidade de El Tomaseño, a 800m da rodovia, não longe de San Fernando ; onde supostos membros do cartel Los Zetas fuzilaram 72 imigrantes latino-americanos, 10 dias atrás. A menina está hospitalizada em estado grave.

[SAIBAMAIS]O incidente elevou a tensão em todo o nordeste do México. Próximo à fronteira sul com Tamaulipas, em Pánuco (estado de Veracruz), combates de mais de 12 horas entre narcotrafiantes e o Exército deixaram sete mortos e o mesmo número de detidos. Para impedir que criminosos alcancem o território norte-americano, Janet Napolitano ; secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos ; anunciou que seu país vai monitorar a fronteira com o México com a ajuda de um avião espião não tripulado Predator. A aeronave fará o voo inaugural amanhã, decolando de Corpus Christi, no Texas. ;Seremos capazes de cobrir a divisa sudoeste, desde a Califórnia até o Golfo do México, fornecendo assistência ao pessoal em terra;, explicou Napolitano. ;É um passo crítico no reforço da segurança da fronteira.;


Antes de o avião Predator começar a focalizar suas câmeras para 2 mil km de extensão territorial, o governo do México tomou uma atitude drástica: demitiu 3,2 mil agentes, 10% de seu efetivo. ;Pelas faltas com seus deveres previstos no regulamento, 3,2 mil elementos foram excluídos;, declarou Facundo Rosas, chefe da Polícia Federal mexicano. De acordo com ele, 1,5 mil policiais serão dispensados em uma segunda etapa. O órgão contava com 34,5 mil agentes e estava na linha de frente da luta contra os cartéis.

Corrupção

;Há muita corrupção na Polícia Federal e ela deriva das instâncias mais altas do comando;, afirmou à reportagem, por e-mail, o mexicano Hector Dominguez-Ruvalcaba, professor da Universidade do Texas em Austin (EUA). ;Os críticos do presidente Felipe Calderón suspeitam que todo o aparato do governo se beneficia do crime organizado;, destaca. Segundo ele, policiais federais têm extorquido a população, sequestrado inocentes para forçá-los a confessar crimes sob tortura e fornecido proteção a criminosos. ;Eu tenho os testemunhos de vítimas dos agentes;, admite.

Raúl Benitez, especialista em Segurança Nacional pela Universidad Nacional do México, concorda. ;Nem todos os agentes são corruptos, mas em Ciudad Juárez e em Tamaulipas há corrupção por parte daqueles que controlam as rodovias.; Benitez crê que o assassinato de Marco Antonio é um aviso aos prefeitos de Tamaulipas e ao governo de que os Zetas vão atacar as autoridades. ;Após a matança (1) dos 72 imigrantes, Calderón iniciou uma grande campanha contra o cartel. Esse crime é um recado de que eles ainda têm poder de fogo;, explicou.

Diante da violência, Javier Oliva Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidad Nacional de México, vê o uso dos aviões Predator como sinal da militarização gradual da fronteira. ;O Escritório contra o Crime Organizado da ONU qualificou o narcotráfico de ;superpotência;, diante do volume de dinheiro movimentado pelos cartéis;, lembra. ;Ciente dessa superpotência, os EUA tratam de se proteger.;

1 - Sobrevivente sob proteção

O equatoriano Luis Freddy Lala Pomavilla, o único sobrevivente da matança de 72 imigrantes latino-americanos no México, está em seu país sob proteção, após ter sido repatriado domingo num avião presidencial. A informação foi divulgada pelo chanceler do Equador, Ricardo Patiño, que não revelou onde está Pomavilla, de 18 anos. O rapaz fingiu-se de morto para se salvar do massacre do último dia 21 no estado mexicano de Tamaulipas, atribuído ao grupo narcotraficante dos Zetas. De acordo com o sargento Rodrigo Cabrera, chefe do comando policial da cidade de Ducur, a família do equatoriano Luis Freddy Lala Pomavilla também está sob a proteção das autoridades, que investigam supostas ameaças recebidas.

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