postado em 31/08/2010 07:30
Os 33 operários soterrados na mina San José, no norte do Chile, receberam ontem uma notícia boa e outra ruim. O motivo de alegria é que talvez eles consigam sair mais rápido do refúgio onde estão, a cerca de 700m de profundidade: em vez de quatro meses, os técnicos já contemplam a possibilidade de um resgate (1)em dois meses. O ponto negativo é que, apesar de estarem mais fracos e debilitados, eles terão de trabalhar duro para ajudar a retirar os escombros que cairão à medida que for aberta a saída para a superfície ; as escavações começaram ontem. O ;plano A; prevê cavar um novo canal até os operários. O ;plano B; é aproveitar um dos dutos já existentes e alargá-lo para retirar os mineiros. ;Eles terão de remover todo esse material enquanto cai; ; aproximadamente 4 mil toneladas de rocha ;, disse André Sougarret, engenheiro-chefe das operações.A ideia de Sougarret é que os mineiros se dividam em grupos de seis, em turnos que permitam o andamento do trabalho em regime de 24 horas, sem ininterrupção. O engenheiro considera que os operários já possuem o material necessário para essa tarefa, como varredoras de porte industrial, movidas a bateria. O orifício aberto ficaria a centenas de metros do refúgio principal, garantindo espaço para acumular e empurrar as pedras.
;O alargamento dessa terceira sonda, que apelidamos de ;mão de Deus;, começaria neste fim de semana;, disse o ministro de Minas, Laurence Golborne. Para iniciar as obras, serão enviadas máquinas que estão na mina Collahuasi, a mil quilômetros de distância. ;Nunca se utilizou essa tecnologia em um projeto semelhante;, disse Golborne, detalhando que, segundo os engenheiros, estudos sobre o solo sugeriram que não deve haver desabamentos.
Para que a operação funcione, outra medida adotada será a mudança dos mineiros para um refúgio 25m mais profundo, porém mais seco que o atual. As autoridades buscam reduzir a umidade e a temperatura (de 30 graus) que os soterrados têm suportado. Para isso, eles se deslocarão cerca de 300m no interior da galeria. ;O acampamento está no nível 105, onde há bastante umidade, fluxos de água caindo de reservas subterrâneas, e isso chega mais ou menos até o nível 90. Movendo-se para o nível 75, eles poderiam ficar secos;, disse o ministro de Mineração, Laurence Golborne. No novo local, os trabalhadotes deverão armar 33 camas de campanha, que começaram a ser enviadas por uma das sondas, instalar sistemas de iluminação e comunicação, habilitar áreas de trabalho, de armazenamento e diversão. Nos últimos pacotes enviados, havia um MP3 com música, roupas térmicas, jogos e ;até mesmo sanduíches de presunto;, informou o ministro.
Detenção
As autoridades chilenas planejam ainda impedir a saída do país dos donos da mina San José, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny. Um dos objetivos do promotor de Atacama, Héctor Mella, é expedir uma ordem de proibição de partida dos dois empresários. Além do desabamento da mina, Mella também incluirá como razão do pedido o acidente que provocou a amputação da perna do trabalhador Gino Cortés, em 3 de julho. Quanto a pedir uma ordem de prisão, Mella diz que é uma opção para o futuro. ;No momento, não me decidi. Vamos ver no fim, mas esperamos que eles permaneçam no país;, disse o promotor ao jornal El Mercúrio.
1 - Primeiro da fila
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, conversou ontem com o colega da Bolívia, Evo Morales, e prometeu que em novembro viajará para La Paz com o boliviano Carlos Mamani, um dos 33 trabalhadores presos desde 5 de agosto na mina San José. Mamani é o único estrangeiro do grupo, tem 23 anos e ingressou no emprego exatamente no dia em que um desmoronamento fechou a saída da mina. Na semana passada, o governo boliviano afirmou que ajudará a família do mineiro, que é casado e tem uma filha de um ano.