Agência France-Presse
postado em 31/08/2010 11:42
O chamado à conversão da Europa ao Islã lançado em Roma - coração do papado - pelo ditador líbio Muamar Kadhafi foi uma provocação e uma falta de respeito ao Papa e à Itália, país majoritariamente católico, declarou nesta terça-feira uma congregação católica.Os comentários de Kadhafi também provocaram um certo mal-estar no governo italiano de direita de Silvio Bersluconi. "Falar de um continente convertido em bloco ao Islã não faz nenhum sentido, porque são as pessoas que decidem sozinhas e em plena consciência ser cristãs, muçulmanas ou de outra religião", afirmou Robert Sarah, secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, ao jornal Reppublica.
Na véspera, Khadafi defendeu que o islã deveria ser transformado na "religião de toda a Europa" durante um discurso em Roma, onde está em visita oficial para celebrar com seu amigo Berlusconi o segundo aniversário do Tratado de Amizade entre os dois países, de 30 de agosto de 2008.
Na barraca de campanha beduína que montou no jardim da embaixada líbia, Kadhafi reuniu ao todo 700 mulheres selecionadas por uma agência, para as quais discursou elogiando os méritos da religião muçulmana.
Essas mulheres teriam recebido 80 euros como pagamento e também uma cópia do Alcorão.
Kadhafi explicou que "o islã deveria transformar na religião de toda a Europa, e que Maomé era o último profeta", segundo uma das participantes, citada pelo jornal Stampa.
Monsenhor Sarah indicou que não se sentia "preocupado com as palavras de Kadhafi, que, a seu ver, eram uma provocação gratuita e pouco séria". "O verdadeiro perigo para os europeus é o relativismo, a falta de fé, a fragilidade da religião, a indiferença ao sagrado", destacou Sarah, argumentando que estes fatores são "os verdadeiros inimigos de nossa fé, que podem criar um terreno fértil para uma eventual futura penetração do islã em toda a Europa".
Robert Sarah, ex-arcebispo de Conakry (Guiné) e atual responsável pelas missões católicas no exterior, deplorou a falta de "reciprocidade entre os países muçulmanos e o Ocidente" e os problemas ligados à "liberdade religiosa nas áreas muçulmanas".
No entanto, "em muitos países como Mali, Guiné e no norte da África, as relações entre cristãos e fiéis de outras religiões são excelentes", afimou. "É por isso que o Papa Bento XVI continua incansavelmente a promover o diálogo interreligioso", concluiu o monsenhor.
Kadhafi causou ainda mais polêmica ao afirmar que a União Europeia deveria pagar pelo menos 5 bilhões de euros (6,3 bilhões de dólares) à Líbia por ano para reduzir a imigração ilegal e evitar uma "Europa negra". Essas declarações foram feitas durante uma cerimônia ao lado de Silvio Berlusconi.
O chefe de Estado italiano não comentou o pedido da Líbia nem a afirmação do coronel Kadhafi de que seria apoiado pela Itália ante as instâncias europeias.
Matthew Newman, porta-voz da Comissão Europeia para assuntos migratórios, também não quis comentar as declarações do ditador líbio, mas indicou que a UE está tentando melhorar o diálogo com as autoridades em Trípoli para prevenir "fluxos migratórios ilegais da África".